Quarentena no Chile, dia 20

Nem eu acreditei hoje de manhã cedo quando acordei e sai para correr. O termômetro do meu celular marcava 7º.C! Mas o dia lá fora estava lindo e irresistível. Vesti meu uniforme de corrida e sai.

Foto: Alexander Schimmeck (via Unsplash)


Claro, a Gabi tinha que acordar! Ela é madrugadora, não tem jeito. Acordou e pediu para eu servir o “desayuno” antes de sair. Ela ia comer e deitar na minha cama com o papito para descansar.


Nosso combinado para esta manhã de sábado era que toda família aproveitasse o novo horário que o Ministério do Esporte anunciou ontem. Agora, as pessoas podem sair para fazer atividade física entre 5 e 10 horas da manhã. 


Depois da minha corridinha matinal, voltei pra casa e eles saíram de bicicleta. Foram a uma pracinha aqui perto onde a Gabi brincou com suas “amigas”, entre aspas porque são aquelas meninas que ela encontra uma vez na vida e, às vezes, nunca mais se reencontram. 


Enfim... ela adorou brincar com outras crianças. A única coisa desagradável é a super população de cachorros nas pracinhas. As crianças disputam os espaços verdes com os animais de quatro patas. Principalmente agora que a maioria dos brinquedos dos parquinhos ficam fechados para uso.


Desde que a gente morava no Centro de Santiago essa disputa já me chamava a atenção. Existem algumas praças que ficam inutilizáveis e o gramado totalmente destruído. Os cachorros correm, fazem um tremendo estrago e nem sempre a prefeitura faz o trabalho de recuperação. 


A Gabi não tem medo deles, mas os bichanos ficam descontrolados e, muitas vezes, eles literalmente passam por cima. Foi o que aconteceu hoje. Ela tava brincando de se equilibrar em cima de uns troncos de árvore e dois cachorros a derrubaram disputando corrida.


Não me levem a mal. Gosto de cachorros, mesmo sendo uma pessoa gateira. Meu problema não é com eles, mas com a quantidade de pessoas que moram em apartamento e adotam cachorros em centros urbanos. 


Falta espaço, não apenas pra eles, mas principalmente para seres vivos: humanos, animais, a flora e a fauna toda. Nesse sentido, as quarentenas são mais cruéis ainda em alguns lugares porque aí mesmo é onde se nota o peso das diferenças sociais.


Em bairros de classe média, as pessoas conseguem aproveitar esse horário da manhã para fazer atividade física e passear com as crianças ou os animais de estimação. Diferente de quem vive nas periferias, onde as pessoas precisam acordar cedo para ir trabalhar, geralmente usando transporte público, e a única opção que teriam para sair seria no final do dia, depois da jornada de trabalho.


Além de chegarem cansadas, muitas dessas pessoas vivem em lugares que quase nunca contam com uma estrutura de lazer. Poucas praças, muitas vezes abandonadas e quase nada de área verde. 


Se num contexto normal essa já é uma situação preocupante, durante uma pandemia com quarentenas intermitentes fica pior ainda. Somos seres sociais, necessitamos compartilhar com outras pessoas, mesmo que seja usando máscara e mantendo uma distância segura. 


As crianças de todas as classes sociais precisam desse contato com seus pares e com a natureza. Por isso, faço questão de aproveitar esse horário. Sei que é um tremendo privilégio que, infelizmente, não está ao alcance de todos.

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