Quarentena no Chile, dia 18

Como se não fosse suficiente toda a tensão e preocupação por causa do coronavírus, em meio a todo esse turbilhão de emoções e muitas vezes o luto pela perda de pessoas queridas, ainda temos que lidar com outros lutos e perdas. Ontem, um colega muito querido foi demitido no meu local de trabalho.

Foto: Jonathan Rados (via Unsplash)

Desde que começou a pandemia, as demissões têm sido uma tônica nas nossas vidas. Sempre tem alguém conhecido, um amigo, um familiar, uma pessoa que entrou na lista dos demitidos durante a pandemia.


A primeira coisa que deixei clara para o meu colega foi: não leve para o lado pessoal, são tempos muito estranhos em que as pessoas representam muito mais números que seres vivos. Não estou dizendo que todas as pessoas demitidas durante a pandemia nunca cometeram nenhum erro no trabalho.


Aliás, no dia em que você conhecer alguém assim, me avise, por favor, porque deve ser a inteligência artificial em ação. Porque nós somos humanos e cometemos erros, nos equivocamos, pisamos na bola, mesmo que o que esteja valendo seja o título do campeonato mais importante.


Nesse caso, estamos numa disputa acirradíssima tentando manter nossos empregos enquanto muitos empresários e empreendedores estão fazendo contas e tentando buscar o equilíbrio. Não está fácil para ninguém especialmente em países como o Chile, onde o governo tem se omitido bastante na hora de dar algum tipo de subsídio.


Fiquei muito triste porque era um colega alto astral, querido mesmo e que trabalhou comigo desde o início que fui contratada. Depois de tantas pessoas que tinham passado pela equipe, éramos os únicos sobreviventes (além do meu chefe, é claro).


Me preocupo todos os dias. Por mim e pelo Cristian, para que a gente não precise entrar no ajuste de contas que esporadicamente acontece em várias empresas. Seria um desastre economicamente e um grande abalo emocional em plena quarentena total.


Já testemunhamos vários colegas e amigos passarem por isso e não é nada agradável. Outros, ficaram sem trabalho desde o início da pandemia porque tinham algum trabalho relacionado com cultura, turismo, ou atendimento ao público.


Todo mundo que oferecia algum serviço e que dependia de pessoas diretamente, ficou sem opções. Mas se em algum momento “o envelope azul”, como dizem aqui no Chile, chegar na nossa casa, tenho certeza de que não vai ser por causa de competência profissional.


Nós dois somos super responsáveis, dedicados e bons naquilo que fazemos (modéstia às favas). Mas ninguém está livre. Portanto, não fico me gabando, apenas torcendo para que a gente sobreviva a mais essa tempestade entre tantas tormentas. 

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