Quarentena no Chile, dia 2

Desde ontem, o Chile vive uma polêmica que se desatou nas redes sociais em meio a esta nova quarentena graças às mães. Acontece que com a proibição do governo de limitar a venda de itens essenciais, muitas pessoas foram pegas de surpresa. Justo na época em que começam os dias frios por aqui. Resultado: várias mães que quiseram comprar um pijama novo para os filhos no supermercado, não puderam. 


Até aí, tudo bem, porque atire a primeira pedra quem nunca dormiu com um pijama velho... Acontece que ao mesmo tempo em que a venda desses itens foi proibida, qualquer pessoa pode comprar bebidas alcóolicas no mesmo supermercado.


Obviamente, começaram os questionamentos sobre prioridades e critérios. Insisto: o problema maior não é o limite para comprar determinadas coisas, mas a importância dada às crianças no contexto da pandemia aqui no Chile que tem sido de negligência desde o início. 


Como eu expliquei no post anterior, o governo concede autorizações para saídas temporárias. Existe até uma nova que permite a prática de esporte ao ar livre, tem também uma para levar animais de estimação para passear na rua. Adivinhem o que não tem? Pois é, as saídas de crianças serão permitidas somente depois de duas semanas de quarentena total, em dias e horários limitados.


O governo que dita essas regras é o mesmo que estimulou a volta às aulas há apenas dois meses garantindo que era seguro. O que mudou de lá prá cá? A única coisa que ficou evidente foi a falta de critério do governo para cuidar da infância.


Ontem mesmo eu doei várias roupas da Gabi que ela não usa mais. Sempre faço isso com as nossas coisas aqui em casa. Tenho esse costume desde sempre. Não vendo, doo. Sempre pode ajudar alguém, como realmente, ajudou ontem. Minha amiga mandou um vídeo da pequena Stella toda feliz com o pijama nem tão novo. 


A Gabi também fica feliz por ver que ajudou outra criança a sorrir com um gesto simples. No nosso grupo de mães daqui, organizamos um bazar virtual para facilitar as trocas. Comprar de pequenos empreendedores nesse momento também ficou inviável porque devido a essa restrição os serviços de encomendas também foram limitados. 


As polêmicas seguiram e o governo teve que voltar atrás e rever outras decisões. Uma delas exigia receita médica para compra de anticoncepcional. Oi? Justo agora? Teve muitas reclamações e manifestações de mulheres até que, finalmente, o governo voltou atrás na medida. 


Também estão sendo criticados os materiais com orientações para o trabalho remoto em casa. A gráfica com dicas para quem está trabalhando em casa (como eu, por exemplo) não contempla um tempo para as atarefas domésticas ou para acompanhar os filhos que estão com aulas online. Outra vez, um material feito pensando apenas em uma parcela muito restrita da população e, como sempre, sem lembrar das crianças que vivem em muitos desses lares. 


Para mim, é muito forte o que está acontecendo porque sempre acostumei minha filha a brincar ao ar livre, com outras crianças, se sujar na terra, mesmo morando em apartamento. Então, considero uma violência diária ter que viver trancada dentro de casa. A coisa fica muito pior quando você vê que tem muita gente que simplesmente não ajuda a sair dessa situação caótica. 


Hoje o que temos são brincadeiras dentro de casa, mais tempo de tela (seja para entretenimento, seja para aulas online), menos atividades físicas com as crianças, menos brincadeiras ao ar livre e junto à natureza. Um desastre! O que será dessa geração? Enquanto as crianças não forem uma prioridade, o futuro não é nada promissor...

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