Quarentena no Chile, dia 6

Ontem, nasceu o primeiro neto do Cristián, o Mateo, filho do Benjamin (filho mais novo do Cristián) e da Camila, namorada dele. Os dois são colegas de colégio e muito novinhos. Ele tem 17 e ela 18.


Ano passado, quando soubemos da notícia, foi um choque. Ainda lembro como se fosse hoje. O Cristián veio me dar a notícia num misto de tristeza e alegria, totalmente surpreendido. Era o início da pandemia e da quarentena.


Junto com essa notícia, já tinham vindo outras, como a demissão de vários colegas de trabalho. Aquele foi o golpe fatal que derrubou o Cristián. Ele chorava compulsivamente à noite na cozinha.


Lá do quarto eu escutava o lamento dele, sentia a dor de ver ele perdendo seu menino para a vida, em meio a uma pandemia brutal, num ano de absolutas incertezas no qual era praticamente impossível planejar qualquer coisa a curto ou a longo prazo nas nossas vidas.


Mas a chegada de um bebê tem esse misto de euforia, esperança e ilusão de que tudo vai melhorar. De que a vida se renova a cada instante, apesar de tudo, das perdas, do luto, das doenças, das tristezas, das desilusões...


Por isso, mandei uma foto do bebê para várias pessoas, vários amigos, porque queria dividir essa pequena alegria, esse instante de esperança, sossego e paz que trazem as crianças recém-nascidas.


É um novo ano absolutamente insano, em que continuamos lutando contra esse maldito vírus. Pouca coisa mudou de 2020 para cá, além do nascimento do Mateo. O Benjamin não pôde acompanhar o parto porque precisava fazer um PCR rápido que custava absurdamente caro. Mas o bebê chegou. Nasceu de parto normal, com saúde. E, no fim das contas, é somente isso o que importa. S A Ú D E. 


Quem tem saúde nesses dias possui a maior riqueza desse mundo. É possível viver com muito pouco ou quase nada, mas é impossível viver sem ter saúde. Provavelmente, no mesmo hospital onde nasceu o Mateo, muitas outras famílias estavam em desespero esperando a recuperação de algum familiar infectado com o coronavírus. Outras seguramente estavam chorando por ter perdido algum familiar de COVID, ou qualquer outra enfermidade. 


O Chile tem atingido a cada dia novos recordes de contágio e mortes. Uma situação pouco alentadora e que traz mais perplexidade, incertezas e medo do futuro. Mas é preciso enfrentar esses fantasmas e, como uma criança recém chegada a esse mundo, alimentar a ilusão de que vai ficar tudo bem, porque no final, apesar de tudo, sempre fica tudo bem. 

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