Parle vous mapudúngun?
Parle vous mapudúngun? Eu não falo, mas aprendi várias palavras em Mapuche ao longo desses 12 anos de Chile. Afinal, o povo originário do Chile deixou sua herança não apenas nos traços físicos dos chilenos, mas também em vários aspectos culturais. Um deles, obviamente, é a língua falada neste país.
Para começo de conversa é bom explicar a origem do povo Mapuche. Historicamente eles viviam entre os rios Itata e Toltén, na parte centro-sul do país. Seu grande legado foi a feroz resistência à dominação espanhola ao longo do século XVI sendo um dos nomes mais conhecidos nesta luta o de Lautaro, líder dos Mapuches.
Uma das primeiras vezes que eu percebi a presença do idioma nas nossas vidas foi no Registro Civil quando estava solicitando meu novo RUT (a cédula de identidade chilena). No local, todas as placas com sinalizações tinham informações em espanhol, inglês y mapudúngun.
Mas não é apenas nas repartições públicas que se percebe essa preocupação com o respeito à cultura do principal povo originário chileno. No idioma das ruas, nas gírias, no jeitinho de falar dos chilenos, seja de qual classe social for, estão presentes algumas palavras do vocabulário Mapuche.
E quais são essas palavras? Algumas delas, viralizaram há alguns dias quando um vídeo publicado em redes sociais mostrava as apalavras usadas por chilenos para expressar determinadas ideias. Palavras essas que são muito diferentes dos demais países vizinhos do continente.
Com o chamativo nome de “No Chile não se diz” pessoas eram entrevistadas nas ruas e respondiam com o vocabulário local o sinônimo de distintas palavras. Uma das mais comuns é “guata” para se referir à barriga.
Outra gíria super popular e que vem do idioma Mapuche é “cahuín” que significa uma reunião de pessoas para beber, mas na linguagem das ruas se refere a uma fofoca, ou uma história mal contada.
A palavra “pichintún” é usada para referir-se às crianças, mas na língua Mapuche faz referência a algo pequeno. Aliás, esse é o nome de uma série de animação do governo do Chile sobre as crianças de distintas regiões e etnias que conformam o Chile. É uma fofura e está disponível no YouTube no canal do Conselho Nacional de TV (CNTV).
Outra palavra que também já escutei é “pelucho” principalmente com adultos chamando a atenção de crianças: “no andes por ahi pelucho”. Que quer dizer, sem roupa!
Na abertura da Convenção Constitucional que redigiu o que seria a nova constituição do Chile em 2021, a presidenta Elisa Loncon saudou aos participantes com um caloroso “Mari Mari”. A saudação significa “olá” e ficou bem famosa na época.
Além de presidir a convenção, Loncón é linguista e ativista de direitos humanos com foco na defesa da identidade, direitos culturais e linguísticos do povo mapuche e dos povos originários do Chile. Ela é considerada uma das cem pessoas mais influentes do mundo, pela revista Time.
Outra palavra que já ouvi muito por aqui é “funa” que significa manifestação ou repúdio público contra uma pessoa. Em Mapudúngun, funa é algo que está podre ou estragado.
Quando fui a Regiã de Magallanes, na Patagônia Chilena, escutei outra palavra de origem Mapuche, “laucha” que é um reto pequeno silvestre. Nós vimos no Parque Nacional em Torres del Paine.
Outra coisa que chama a atenção é a quantidade de localidades e lugares com nomes de origem Mapuche. No Chile, alguns exemplos são: Chiloé, Rio Mapocho, Maule, Coyhaique e Curacautín.
Se você ficou curioso e quer conhecer mais palavras desse lindo idioma, pode encontrar disponível na internet o dicionário da Universidade Católica de Temuco.
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