Quando me encontrei no Chile



Essa semana andei revisando alguns textos que escrevi na última década. O que mais me chamou a atenção durante esse processo foi constatar que em 2017 e 2018 eu não escrevi quase nada. Foi justamente nesse período que voltei ao mercado de trabalho e tive que conciliar com a maternidade.

Claramente, tive que fazer alguns sacrifícios e um deles foi o blog. Não estou culpando a maternidade porque tenho certeza que foi uma opção consciente e também uma questão de necessidade. Provavelmente, pela minha sanidade mental tomei essa decisão.

Além disso, foi durante esse período que eu tinha uma coluna na plataforma Brasileira Pelo Mundo. Era um trabalho voluntário de várias brasileiras que escreviam sobre como era viver em determinado país. Geralmente, os textos eram informativos, com dados e exigiam um pouco mais de atenção e cuidado.

Também trabalhei uma época como revisora de textos da plataforma e a gente tinha o compromisso de entregar um texto por mês. Como eu gostava muito desse projeto, nem pensei duas vezes e preferi deixar meu blog pessoal em pausa, mas não abandonar o BPM.

Claro que essa decisão também teve consequências já que deixei de escrever sobre minha vida pessoal no Chile. O blog funciona como um diário que depois acaba transformando-se nas minhas memórias.

Desse período, o que mais me marcou foram as mulheres que conheci durante as manifestações do Ele Não aqui no Chile. O movimento que ficou conhecido em todo o mundo contra a eleição no Bozonaro.

É impressionante que eu não tenha escrito nada a respeito dessa experiência que foi realmente linda e que me devolveu pra vida. Acho que foi um dos momentos em que eu me senti mais viva ao longo desses anos no Chile.

Tudo aconteceu por acaso. Conheci a Valentina nas manifestações contra o impeachment da Dilma, dali, surgiu um tímido movimento de brasileiros de esquerda no Chile. Até então eu pensava que só tinha brasileiro reacionário e alpinista social aqui. Tive tantas decepções em termos de amizade, sempre fiz questão de manter certa distância.

Mas naquele momento me senti acolhida, visibilizada, com poder de voz. Porque eu realmente representava um grupo, que tinha uma luta, uma causa. Muito embora a gente tenha perdido naquele momento, o que eu ganhei em termos de amizades, de pessoas lindas que eu conheci, não tem preço.

Sou eternamente grata por essa experiência. Organizamos dois atos que tiveram bastante repercussão na mídia alternativa e muito apoio dos movimentos sociais chilenos. Além disso, conheci políticos daqui, pessoas que até hoje quando me veem lembram de mim e da minha família, mesmo porque a Gabi era pequeninha e me acompanhou com o Cristián nesses atos.

Ali se abriu um mundo. Aprendi muita coisa. Até a pedir autorização para manifestação em lugar público. Embora não tenha escrito muito nesse período, tenho muito registro audiovisual: fotos e vídeos. Foi muito legal e super importante para retomar a confiança em mim mesma, me conectar comigo mesma, sair da concha e levar minha filha comigo por aí.

Cresci muito nesse período e acredito que foi importante até mesmo na forma como eu crio e educo minha filha. Tinha muitas inseguranças e medos, dúvidas e incertezas. Mas aquele momento foi um ponto de virada em que finalmente a verdadeira Isabela mostrou a que veio.

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