Minha primeira tentativa de morar no Chile

Esse ano completo onze anos desde a primeira tentativa de vir morar no Chile. Isso mesmo, já tinha existido uma primeira vez. Em 2010, ainda lembro como se fosse ontem, vendi tudo, desmontei casa, levei meus dois gatos (Black e Brother) para a casa da minha mãe em Porto Alegre, me inscrevi num curso de espanhol na Universidade do Chile e, logo depois do terremoto, estava aterrissando no que tinha sobrado de Santiago depois de um grande terremoto.





Naquele ano, estava com 33 para 34 anos, super bem no meu trabalho diga-se de passagem. Mas o amor que eu sentia era muito maior e resolvi arriscar. Não queria dar um salto no escuro e simplesmente me atirar de cabeça, então, ponderei bem, como boa racionalista. Procurei cursos que eu pudesse fazer e encontrei um avançado de espanhol numa das melhores universidades do Chile.


Sozinha, fui atrás de cartas de recomendação na Universidade de Brasília, participei do processo de seleção e recebi a carta confirmando que eu tinha sido aceita com um baita frio na barriga. Falei com os meus chefes, pedi demissão do meu posto de coordenadora de imprensa (sim, eu tinha um cargo de chefia com carteira assinada!), marquei entrevista no consulado chileno para pedir meu visto de estudante. 





Fiz um garage sale presencial e outro virtual para vender tudo mesmo, duas despedidas (porque uma não era suficiente, não é mesmo?), vendi meu carro... Despachei meus gatos e meus pertences para Porto Alegre de onde parti rumo ao Chile, cheia de esperanças. Minha viagem atrasou por conta do terremoto. Tinha passagem para a primeira semana de março, mas o terremoto foi dia 27 de fevereiro, o que acabou fechando o aeroporto e atrasando todos os voos.





Como eu sou muito teimosa, nem pensava em desistir da minha viagem. Cheguei no meio do caos, mas a mala ficou para trás... Passei a primeira noite sozinha no meu apart hotel, sem mala... A bagagem chegou uns dias depois e o Cristián também... ele andava cobrindo o terremoto fora de Santiago, no epicentro, em Concepción.


Não fiquei muito tempo no apart hotel porque era caro e logo comecei a procurar apartamento, quarto, enfim, o que fosse possível pagar. Consegui alugar sozinha, pagando apenas a garantia, um kitnet perto do Parque OHiggins, pertinho do metrô e de linhas de ônibus, assim eu podia ir para as aulas na universidade, que eram só três vezes por semana, pela manhã. 





Como eu morava perto de um parque, podia correr sempre que queria, o que me ajudou muito nesse período. Conheci muita gente! Fiz amizade não apenas com meus colegas de curso, mas nessa busca por lugar onde morar, fiz amizades também. Pessoas que me convidavam para churrascos e festas.


Saía bastante com meus colegas de curso e me diverti muito com eles. Trabalhei fazendo bicos de tradutora para uma agência de comunicação, mas a coisa não passava disso. Ganhava bem pouco e aquilo foi me dando um desânimo profissionalmente.





Outras coisas chatas também aconteceram nesse período. Um dos meus gatos fugiu da casa minha mãe, o Brother, e fiquei arrasada... Minha relação não avançava com o Cristián porque apensar de eu estar disponível e por perto, ele não estava pronto.


Como não sou de ficar parada, já que a vida é movimento, acabei tomando a decisão de voltar para o Brasil quando meu curso terminasse. Lembro que adiantei minha passagem, inclusive. Sentia que não valia a pena esperar (mais do que eu já tinha esperado) e voltei.


Foi bem tranquila a despedida porque eu tinha certeza da minha decisão. Não sou mulher de vacilar. O que foi difícil foi voltar, recomeçar, reconstruir, reerguer. Jamais esqueço do dia em que liguei de um telefone público no Zaffari para a dona da agência onde trabalhava antes de ir para o Chile, tentando marcar uma entrevista de trabalho em São Paulo.





Consegui. Fui para o Rio de Janeiro, onde fui acolhida pelo querido Xande que me recebeu em sua casa. No coração do Leblon, lambi um pouco as feridas, fiz uma entrevista de trabalho, tomei de banho de mar... Do Rio, fui para São Paulo, mais entrevistas, hospedagem na Paulista em hotel barato para economizar o que dava e investir no meu futuro incerto.


Até que voltei para Brasília, onde fiquei hospedada na casa da Ju, que também me ajudou na minha reinserção laboral conseguindo mais entrevistas. Acabei voltando para Brasília, no fim das contas. 


Foi como se eu tivesse apertado control Z, de novo, depois de um tempo trabalhando, alugar um apartamento, comprar carro, montar casa, rever os amigos... Desse período, conservo mais lembranças que qualquer coisa. Muita gente entrou e saiu da minha vida porque com o passar do tempo e as pancadas que vivi fui ficando mais e mais seletiva. 





Cresci bastante, amadureci e essa bagagem trouxe comigo mais segurança. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria. Sei que posso. Hoje, levaria comigo não apenas um gatinho, mas também a minha filha para onde quer que eu fosse. O importante é jamais esquecer-se de que a vida é movimento.

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