Um livro para ler

Eu tinha escrito que o livro A Era da Loucura renderia algum outro post aqui no blog. Infelizmente, durante a leitura foi impossível escrever qualquer coisa a respeito.

A leitura se deu durante o período de mudança de Brasília para Porto Alegre. Foi uma fase intensa, de muitos compromissos e pouca atenção ä leitura.

Apesar de todos esses ingredientes, tomei o cuidado de fazer apontamentos e marcar algumas páginas do livro com trechos que realmente mereciam uma reflexão posterior.

Agora, divido com vocês essas impressões. Quero deixar claro que são opiniões minhas, a partir das próprias experiências de vida, que acabam determinando o tipo de leitura que temos não apenas dos livros, mas da vida em si.

Começo pelo fim do livro, que trata do absurdo do envelhecimento. Depois do que li, acredito que sou uma velha num corpo jovem.

Antes que alguém pense “Credo” ou “É isso mesmo, Belinha” gostaria de dizer que fico muito feliz com essa constatação. Que bom que já aprendi algumas coisas na vida antes dos 60 anos.

Impossível escrever esse post sem destacar alguns trechos do autor, embora eu não tenho a pretensão de fazer uma resenha do livro. Perdoem, mas são trechos que considero importantes:

“Temos menos necessidade de ser como todo mundo, menos necessidade de que gostem de nós e menos necessidade de gostar dos outros – e, portanto, menos compulsão para a complacência” (página 187).

É exatamente assim que encaro a vida. Não me preocupo com a opinião dos outros a meu respeito. Certa vez meu terapeuta me disse que isso era ser assertivo.

Tenho consciência de que esse comportamento pode me levar a solidão porque as pessoas querem, sim, que a gente se preocupe com a opinião alheia.

Meu terapeuta também me disse que a assertividade tem esse efeito, considerado que vivemos em mundo cheio de melindres. Ok. Eu aceito pagar o preço, mas prefiro ter liberdade parta dizer o que penso e viver da maneira que me faz feliz de verdade.

Ao mesmo tempo, a juventude conserva o gosto pelo novo, apontado pelo autor do livro como uma característica que vai embora com o avanço da idade.

“A tendência do idoso de fugir do novo e das dificuldades pode ser literalmente fatal” (página 188).

Que Deus me conserve sempre curiosa, inquieta e contestadora. Ainda que isso me custe muitas discussões, às vezes, sem fundamento.

Também adorei as considerações do escritor Michael Foley sobre a morte. Ele bateu na mesma tecla que eu sempre bato: a de que todos sabemos que vamos morrer um dia, mas cada um de nós vive com medo da morte.

“À medida que nos aproximamos da morte, devíamos ter mais consciência dela, mas quase sempre ocorre o contrário” (página 189).

Viver consciente de que tudo muda a todo instante e de que temos um prazo de validade nesse mundo pode ser um importante ingrediente para a nossa vida.

Podemos dedicar atenção ao que realmente importa nessa vida e aproveitar melhor a nossa passagem por aqui.

No capítulo que trata do absurdo do trabalho também fiz várias marcações de páginas. Talvez porque minha mais recente experiência profissional foi consideravalmente estressante.

“Em nenhum lugar o isolamento é mais necessário que no local de trabalho. Mas em nenhum outro lugar ele é tão difícil. Porque é o trabalho que paga a casa e o carro, os jantares nos restaurantes, servidos com talheres pesados e guardanapos engomados, e as férias numa vila escondida por trás de buganvílias na Provence” (página 150).

Quando estive em Buenos Aires, no início de 2011, conversei com uma amiga jornalista que está há alguns anos vivendo como freelance.

Na ocasião, eu disse a ela que sentia falta da minha família que vive em Porto Alegre e que estava em Brasília apenas pelas boas oportunidades de trabalho. Ela me disse: você precisa rever seus valores.

E é verdade. Um bom emprego paga as contas e nos condiciona a aceitar muitas coisas. Longe das pessoas que a gente ama, é necessário pensar se essa escolha é realmente necessária.

“O romance de Nicholas Baker The mezzanine capta a atmosfera única dos complexos empresariais contemporâneos: um vasto anônimo, habitado por pessoas desesperadas por serem agradáveis” (página 151).

Sei que minha perspectiva aqui não é a mais otimista, mas talvez seja demasiada realista. Não tenho problema para me relacionar com as pessoas, aliás gosto de gente, que fique claro!

Mas os ambientes de trabalho estão cada vez mais infestados de mesquinharia, hipocrisia e doenças psicológicas. Não são lugares agradáveis para estar e viver.

“A pressão pela obediência é mantida nas reuniões e nos encontros da equipe fora do local de trabalho. Como se não bastasse encontrar os colegas a semana toda, ainda é preciso confraternizar com eles, explorando o poço de uma mina abandonada durante um fim de semana (página 153)”.

Sempre fiz questão de manter amizades fora do ambiente de trabalho, com pessoas que não tem nada a ver com o trabalho. Em Brasília, isso é quase impossível.

Porque as relações se dão basicamente a partir do ambiente de trabalho, ou dos laços estabelecidos no local de trabalho. Basta olhar para meu histórico de amizades para ver que conservei queridos amigos que não tinham nada a ver com a minha profissão ou com quem nunca trabalhei diretamente.

Finalmente, mas não menos importante, ao contrário, pelo fato de ser o principal tema na minha humilde opinião, deixei para o fim o capítulo sobre o absurdo do amor.

Ah, o amor... nos tempos do “mundo moderno que tornou a felicidade uma meta (quase impossível)”, como diz o subtítulo do livro.

“E há também o problema de que a fase inicial do relacionamento é sempre mais excitante, em especial numa época que adora a fantasia e é enfeitiçada pelo charme do potencial (...) E o erro crucial é que todo mundo afirma estar procurando amor, quando na verdade, procura apenas paixão (página 169, que sugestivo..).

Bueno, o que eu posso dizer a respeito disso? Alguém por acaso não conhece alguma história tórrida de “amor” que levou a um relacionamento que terminou pouco tempo depois?

Por que será? Meu casamento terminou, entre outras coisas, por isso. Além dos sonhos completamente diferentes que tínhamos para as nossas vidas, a paixão acabou.

E ali não havia amor. Ficou uma grande amizade, mas que não resiste ao passar do tempo de uma vida a dois. A vida a dois requer amizade e muito amor. Não apenas paixão.

“Mesmo quando tudo sai como planejado, uma festa de casamento dura um dia, a maior parte do qual sob as ordenas dos fotógrafos, e, quando a plateia parte e as roupas retornam às suas caixas (de onde nunca mais sairão), um homem e uma mulher comuns se olham e pensam: ‘É só isso?’ (página 173).

Nunca casei com toda a pompa e circunstância. Longe de mim condenar aqueles que fazem questão do ritual, pelo contrário, dou a maior força.

Mas assim como o autor do livro considero um grande evento para algo que termina tão rápido... Na minha opinião, a cerimônia de casamento é totalmente desnecessária.

Mesmo porque o casamento virou uma indústria que mobiliza tanta gente e tanto gasto e, muitas vezes, termina com traição, separação, desrespeito...

O casamento é muito mais do que o evento em si. Comprometer-se está além do vestido branco, do brinde, da decoração e do Buffet.

“Assim como o tempo e a bolsa de valores, o casamento (ou qualquer outra forma de relacionamento sexual) é um sistema caótico” (página 177).

Entao é isso gente. Quem decide juntar as escovinhas de dentes tem que estar preparado para o que der e vier. Não se pode esperar que todos os dias sejam bons, nem aceitar que todos sejam ruins.

É importante ter consciência de que o casamento precisa de protagonismo dos dois para que seja bom. Cumplicidade sempre, em todos os momentos. Respeito e individualidade também.

O casamento são dois. Dois indivíduos cada um com seu back ground trazendo para uma nova vida a dois a união do desconhecido.

Casamento dá trabalho mesmo. Relacionamentos são difíceis. Uma vez um amigo me condenou por usar a palavra trabalho ao me referir ao casamento.

Mas acredito que é essa preguiça de batalhar para que funcione que leva muitos casamentos ao final infeliz. A vida real não é como nos contos da Disney onde uma fada madrinha resolve todos problemas com seus poderes mágicos.

Dá trabalho, sim! Mas acho que vale a pena quando a gente ama o nosso parceiro de verdade e está disposto a enfrentar juntos os momentos ruins, que são passageiros.

É aquela velha história: não há mal que dure para sempre, nem bem que nunca acabe. Nesse velho clichê a sabedoria popular reforça o preceito budista da impermanência. Tudo muda a todos instante.

Super recomendo o livro A era da Loucura, do Michael Foley. Com muito bom humor e uma língua afiada ele dispara sua metralhadora contra tudo aquilo que nos repetem a exaustão como receita para a felicidade.

E eu vou ficando por aqui para que vocês possam ler o livro!

Comentários

  1. Seu posto só aguçou ainda mais minha curiosidade! Que bom que vou ler! Beijão!

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  2. Já está a caminho, via ECT! Boa leitura! Beijos

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