20 anos sem meu pai

Dia 22 de agosto, completam-se 20 anos da morte do meu pai. Incrível como o tempo demorou para passar e curar as feridas dessa perda tão precoce e inesperada. Meu pai faleceu aos 60 anos vítima de um câncer, de um tipo que hoje, graças aos avanços da Medicina e da Ciência, tem cura. Sim, um brasileiro e sua família puderam compartilhar a história de sucesso de um tratamento inovador e eficaz desenvolvido pela Universidade de São Paulo. 

Todo mundo sorrindo

“Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell com verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Todos os pacientes tratados tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz a reportagem do portal G1.

Nesses 20 anos, encontraram a cura para a doença que levou meu pai... tivemos uma pandemia mundial que matou muita gente no mundo todo, em especial no Brasil. A tecnologia viveu um salto de desenvolvimento que a minha geração testemunhou (e ainda está testemunhando). 

Nesse período, também aconteceram os eventos mais importantes da minha vida: morar fora do Brasil e ser mãe expatriada. Experiências muito parecidas com as que meu pai viveu nos anos em que morou no Brasil e quando foi pai de duas brasileirinhas que completaram o quarteto das sisters Vargas.

O mundo não é mais o mesmo, nossas vidas não são as mesmas e seria ingenuidade pensar que meu pai seria exatamente a mesma pessoa. Mas a lembrança mais recente que temos dele é de quem nós conhecemos e convivemos todos os dias. 

Meu pai teve uma história de vida que por si só já me ensinou muitas coisas: ele foi criado sem pai e, apesar disso, era um pai muito dedicado à família. Ao mesmo tempo, sempre se manteve fiel as origens guatemaltecas dele. Na reta final, lembro que ele sofreu muito porque o desejo dele era morrer na terra natal.

Posteriormente, respeitando seu desejo, minha mãe transportou as cinzas dele para a Guatemala, onde ele descansa em paz. Ele teve uma passagem muito tranquila, provavelmente, porque era um cara muito espiritualizado.

Sei disso porque, certa vez, quando morava em Brasília fui num Centro Espírita para saber como ele estava. E a médium que me atendeu disse isso e que ele estava bem e quando queria falar com a gente, aparecia em sonhos. 

Claro que ouvir algo assim nos conforta, mas não preenche aquele vazio que a pessoa deixa quando vai embora pra sempre. É muito difícil essa despedida permanente, mesmo porque não somos educados desde cedo para lidar com a morte com a naturalidade que ela merece. Todos nós sabemos quando nascemos que a única certeza é o dia da nossa morte, no entanto, é muito difícil dizer adeus para sempre. 

Terminar ciclos de vida, enterrar os mortos, cumprir os rituais de despedida e seguir em frente, dia a dia, pouco a pouco, sem morrer por fora, do mesmo jeito que matamos um pedacinho da gente por dentro. 

Para mim, foi muito difícil porque quando cheguei em Porto Alegre, meu pai estava entubado, ou seja, foi aquela despedida sem ter sido. Palavras de conforto, orações, meditações, ritos e religiões... tudo ajuda, nada resolve. Fica sempre aquela pergunta: por quê? 

Hoje, morando longe, meu grande medo é reviver isso outra vez. Não chegar a tempo da derradeira despedida. Não estar presente. É um fantasma que, de vez em quando, ronda meus pensamentos. Porque é uma opção de vida morar fora e viver longe da família. Opção essa que implica em várias escolhas e muitas renúncias. 

Tenho pensado muito nisso e, especialmente, nessa data não poderia ser diferente. O desejo de retornar ao Brasil e estar perto da minha família, principalmente, depois da pandemia que foi algo devastador no mundo todo, está mais forte. E, nesse 22 de agosto, ele se projeta de dentro do meu coração para todo o meu corpo como uma luz muito forte e infinita.

Comentários

  1. Oi,Bela!Quando penso em ti vivendo no Chile me lembro muito dele também.

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  2. E realmente, lembro que apesar das orações recebidas, tudo que queríamos era ele de volta.

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    1. É muito difícil mesmo, quando a gente passa por isso, aceitar que é o fim. 🥲

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  3. Tio Manoel era uma pessoa muito querida, deixou enormes saudades. E não abandona blog prima, ele é ótimo

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    1. Ele era mesmo. 💙 Tá bom, pode deixar, tentarei retomar o blog. Obrigada pelo carinho.

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  4. Bela, queridona! Teu texto é emocionante. Beijo no teu coração.

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  5. Amiga, que texto tão bonito, tão emocionante e ao mesmo tempo tão visceral… porque é assim…difícil, doído e de uma saudade sem fim! Há dias amiga, há dias que temos que passar e depois as coisas se reacomodam… Espero que um dia voltes… estarei aqui!!
    Beijo, da Vivi para Ultrabelinda!❤️

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    1. minha amiga querida, nunca esqueco do teu carinho e até hoje tenho a cartinha que tu escreveu pro meu pai quando ele faleceu. saudades amiga. beijo grande Vivi

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