Uma vida nem tão bela assim

Quando eu era criança, lembro que uma noite meus pais tiveram uma discussão. Devia ser outono ou inverno porque lembro que minha mãe vestiu uma parka linda que ela tinha, vermelha com um forro xandrez, pegou a bolsa e saiu.

Eu e minhas irmãs ficamos chocadas! Éramos muito pequenas. Ficamos assustadas e pensamos: Meu Deus, e agora? Onde ela foi? Será que volta?

Não sei quanto tempo minha mãe ficou fora, mas o fato é que ela voltou. Engoliu sei lá o que o meu pai disse ou fez e voltou. Por nós. Porque sei que ela nos amava muito como ama até hoje.

Desdes antes disso, eu já sabia que casamento não era uma coisa fácil. Lembro de ter conhecido meus avós já desquitados. Eles não moravam juntos há muitos anos.

Viviam no mesmo terreno. Cada um na sua casa. Não eram um casal moderno. Nada disso. Apenas viviam perto um do outro.

Também já fui casada, por apenas três anos e sem filhos, é verdade, mas já vivi essa experiência. Quando me separei, um amigo perguntou: tu pensa em casar de novo?

Disse a ele que sim. Porque pra mim o casamento é uma coisa bacana. Eu curto a vida a dois. Gosto muito de família, de casa cheia, de ficar em casa!

Adoro programas durante o dia. Não sou nada baladeira! Gosto mesmo é da minha cama e de um bom livro. Adoro um vinho ou uma cerveja gelada no aconchego da minha casa em boa companhia.

Mas a verdade é que com toda essa energia positiva canalizada para ser feliz, com tudo isso, estou num momento bem delicado da minha vida.

Assim como a minha mãe, peguei a minha bolsa, vários casacos e com uma mala enorme fui para Porto Alegre por uns dias.

Queria esfriar a cabeça. Repensar na vida e nas minhas escolhas. A viagem foi ótima! Fiz vários passeios com a minha mãe!

Visitamos Osório e almoçamos lá no Morro da Borússia. Eu dirigi de novo o que é uma das minhas paixões ainda mais na estrada...

Fui no salão de beleza, fiz a unha do pé - que sabe lá Deus há quanto tempo eu não fazia com uma profissional! Fiz a sombrancelha também que eu mesma ajeito, mas parece que dói menos quando é alguém que faz pra gente.

Visitei os apartamentos novos de amigas e primas, tomei uns bons vinhos, almocei com amigas muito queridas, revi colegas de trabalho, ri da minha própria desgraça.

E assim como a minha mãe, eu voltei. Vim com a mala carregada de livros, alguns de auto-ajuda, outros com leituras leves para desopilar a mente.

Em Porto Alegre, comprei uma blusa térmica para voltar a correr no frio e umas sapatilhas com freio para retomar a yoga.

Por enqunanto, consegui apenas voltar para a yoga, o que já considero um grande passo. Falta dar uma passada maior e correr...

Também aproveitei minha viagem para ir na minha dentista, minha prima querida, e na ginecologista, porque eu sou bem chata com isso.

Fiz exames que mostraram algumas alterações, sinais claros de estresse. A vida cobra. A saúde cobra. O corpo fala.

Voltei mentalizando o melhor, como sempre faço na minha vida. Tenho reclamado bastante na vida no Chile. Sei disso.

É porque não está fácil. Quem está de fora, não consegue imaginar. Apenas os mais próximos acompanham as loucuras e entendem.

Alguns dizem: vai dar certo! Outros afirmam: nada vai mudar. É verdade. Nada vai mudar. Nem sei se vai dar certo.

Tenho fé de que com um bom trabalho aqui no Chile as coisas se descompliquem. Sempre fui muito independente e esse é o meu calcanhar de aquiles.

Procuro me equilibrar sobre os meus pilares: trabalho, família, amigos, amor... Mas nem sempre consigo ter harmonia em todos eles.

Nesse momento da minha vida está tudo alterado e os exames de sangue mostraram isso. Agora, vou procurar um endocrinologista aqui para iniciar um tratamento.


E torcer para que logo pinte um trabalho bacana e a vida mude de novo. 

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