Como os estrangeiros enxergam o Chile?
Esse fim de semana, o jornal El Mercúrio publicou uma reportagem com depoimentos de vários estrangeiros analisando a sociedade chilena.
O jornal ouviu relatos de dois equatorianos, um brasileiros, um norteamericano e uma espanhola.
Todos os entrevistados tiveram que escrever uma carta para os pais. A ideia era dar um relato bem verdadeiro sobre o que pensam do Chile.
Para mim, o depoimento do brasileiro deixou claro que ele é um cara de São Paulo e que vive na parte rica de Santiago.
Não me senti contemplada em nada do que ele falou. No entanto, tomei a liberdade de traduzir o depoimento que, na minha humilde opinião, se aproxima bastante da minha visão do Chile e dos chilenos.
É de um norteamericano, que é ator e escritor, e mora no Chile há um ano e oitos meses. Ele é casado com uma chilena e diz que depois daqui a dois meses vai morar no Brasil. Por que será?
Concordo totalmente com esse gringo e, assim como ele, também espero um dia poder viver novamente no Brasil.
Espero que vocês leiam e compreendam as razões, minhas e de outros estrangeiros, que se sentem um pouco incomodados com o jeitinho chileno de viver.
“Uma estrutura velha
Querido papai,
Já estou há mais de um ano no Chile e gostaria de te contar a minha experiência. Viajei pelo mundo inteiro e nenhum país é perfeito. O Chile é um país com pessoas maravilhosas. Algumas delas são muito trabalhadoras, como os chilenos descendentes de alemães da família da minha esposa Sabina. De alguma maneira se parece com a Califórnia, já que tem de tudo: montanhas, praias, espaços abertos. Podes surfar pela manhã e à tarde já estás na montanha. Há desertos e lagos, é uma terra maravilhosa. Também tem La Vega e o Mercado Central, o contato direto com as pessoas, as empanadas, os completos e os sanduíches ases, que eu adoro.
Entretanto, já notei que é uma sociedade muito fechada e muitas vezes pessimista. São muito quadrados e aferrados à tradição. É impressionante ver como no metrô as pessoas não te deixam descer e ficam paradas, ou como no ônibus se jogam em cima, inclusive de quem vai de bicicleta. Os chilenos olham para baixo e não se abrem, e para eles tudo é ruim. Não respeitam suas cidades e jogam lixo na rua. O Chile tem um monte de coisas boas, mas se os chilenos continuarem olhando para o chão, eles nunca vão conseguir enxergá-las.
Os ricos falam mal dos pobres e os pobres falam mal dos ricos. Os ricos são donos de tudo e têm de tudo; isso é ruim porque os seus filhos não aprendem nada, não veem o mundo real. Existe um círculo vicioso, porque os ricos querem que os pobres trabalhem com paixão, mas não estão dispostos a lhes pagar mais por isso. Ou seja, não há incentivos, não há competição. No Chile, te pedem um milhão de trâmites para fechar um negócio; eu, por exemplo, ganho dinheiro, mas não posso fazer nada sem contrato. Nem ao menos ter um celular. É uma estrutura velha.
Também há uma hierarquia com os sobrenomes e com a aparência física; por exemplo, como sou alto e loiro, recebo mais ofertas de trabalho. É uma verdadeira pirâmide. As pessoas se preocupam com os títulos ou com o diploma, e não levam em consideração alguém com sonhos e vontade de trabalhar. Isso soma-se ao fato de que há muita desconfianca e medo; tanto, que as casas são todas gradeadas.
Tenho muitos amigos aqui, mas todos ou são chilenos-estrangeiros, ou já viajaram muito, e como conhecem outras culturas e são mais abertos, sabem de tudo um pouco. Isso se traduz em mais coração, mais entrega.
Muitas coisas podem melhorar no Chile e essa é uma mudanca que já está acontecendo na geração com 30 anos de idade, que é mais aberta que os seus pais. Eles estão fazendo isso agora e tenho esperanca de que vão fazer desse país um lugar muito melhor.
Um grande abraço,
Brett Walters,
Norteamericano”.
O jornal ouviu relatos de dois equatorianos, um brasileiros, um norteamericano e uma espanhola.
Todos os entrevistados tiveram que escrever uma carta para os pais. A ideia era dar um relato bem verdadeiro sobre o que pensam do Chile.
Para mim, o depoimento do brasileiro deixou claro que ele é um cara de São Paulo e que vive na parte rica de Santiago.
Não me senti contemplada em nada do que ele falou. No entanto, tomei a liberdade de traduzir o depoimento que, na minha humilde opinião, se aproxima bastante da minha visão do Chile e dos chilenos.
É de um norteamericano, que é ator e escritor, e mora no Chile há um ano e oitos meses. Ele é casado com uma chilena e diz que depois daqui a dois meses vai morar no Brasil. Por que será?
Concordo totalmente com esse gringo e, assim como ele, também espero um dia poder viver novamente no Brasil.
Espero que vocês leiam e compreendam as razões, minhas e de outros estrangeiros, que se sentem um pouco incomodados com o jeitinho chileno de viver.
“Uma estrutura velha
Querido papai,
Já estou há mais de um ano no Chile e gostaria de te contar a minha experiência. Viajei pelo mundo inteiro e nenhum país é perfeito. O Chile é um país com pessoas maravilhosas. Algumas delas são muito trabalhadoras, como os chilenos descendentes de alemães da família da minha esposa Sabina. De alguma maneira se parece com a Califórnia, já que tem de tudo: montanhas, praias, espaços abertos. Podes surfar pela manhã e à tarde já estás na montanha. Há desertos e lagos, é uma terra maravilhosa. Também tem La Vega e o Mercado Central, o contato direto com as pessoas, as empanadas, os completos e os sanduíches ases, que eu adoro.
Entretanto, já notei que é uma sociedade muito fechada e muitas vezes pessimista. São muito quadrados e aferrados à tradição. É impressionante ver como no metrô as pessoas não te deixam descer e ficam paradas, ou como no ônibus se jogam em cima, inclusive de quem vai de bicicleta. Os chilenos olham para baixo e não se abrem, e para eles tudo é ruim. Não respeitam suas cidades e jogam lixo na rua. O Chile tem um monte de coisas boas, mas se os chilenos continuarem olhando para o chão, eles nunca vão conseguir enxergá-las.
Os ricos falam mal dos pobres e os pobres falam mal dos ricos. Os ricos são donos de tudo e têm de tudo; isso é ruim porque os seus filhos não aprendem nada, não veem o mundo real. Existe um círculo vicioso, porque os ricos querem que os pobres trabalhem com paixão, mas não estão dispostos a lhes pagar mais por isso. Ou seja, não há incentivos, não há competição. No Chile, te pedem um milhão de trâmites para fechar um negócio; eu, por exemplo, ganho dinheiro, mas não posso fazer nada sem contrato. Nem ao menos ter um celular. É uma estrutura velha.
Também há uma hierarquia com os sobrenomes e com a aparência física; por exemplo, como sou alto e loiro, recebo mais ofertas de trabalho. É uma verdadeira pirâmide. As pessoas se preocupam com os títulos ou com o diploma, e não levam em consideração alguém com sonhos e vontade de trabalhar. Isso soma-se ao fato de que há muita desconfianca e medo; tanto, que as casas são todas gradeadas.
Tenho muitos amigos aqui, mas todos ou são chilenos-estrangeiros, ou já viajaram muito, e como conhecem outras culturas e são mais abertos, sabem de tudo um pouco. Isso se traduz em mais coração, mais entrega.
Muitas coisas podem melhorar no Chile e essa é uma mudanca que já está acontecendo na geração com 30 anos de idade, que é mais aberta que os seus pais. Eles estão fazendo isso agora e tenho esperanca de que vão fazer desse país um lugar muito melhor.
Um grande abraço,
Brett Walters,
Norteamericano”.
Bacana o depoimento e a ideia do jornal de levantar essas opiniões. O que esse americano diz bate mesmo com as coisas que conversamos, não? Tenho mesmo a ideia de uma sociedade velha, meio parada no tempo, muito conservadora. Quem sabe um dia poderei dizer da minha opinião de turista, hein? Tomara! Beijão!
ResponderExcluirBah, Myla, bate muito! Se vieres de férias ou apenas por um tempo, certamente nao vais ter essa mesma impressao. As coisas ficam mais claras quando a gente vive aqui. De viagem e de passagem, o Chile é sim muito bom. Mas conviver com os chilenos e acredito que em qualquer outra cultura é sempre mais complicado. Beijao
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