in the middle of nowhere

Uma das coisas mais legais na minha trajetória profissional são os lugares e as pessoas bacanas que conheço.

Tive a grata surpresa de conhecer um estúdio de gravação super bem equipado em plena estrada, num condomínio residencial.

O dono do estúdio fez aquilo que muita gente gostaria de fazer e quase ninguém tem coragem.

Foi morar num lugar tranquilo, bonito, com vista para as lagoas do Litoral Norte. No meio de lugar nenhum, encontra inspiração para compor.

Num misto de encantamento e curiosidade, pergunto incrédula: dá para se manter trabalhando isolado aqui? Ele responde que tem altos e baixos, mas que é possível.

Numa pausa para comer algo, em mais um dia de trabalho corrido, a conversa é sobre as coisas chatas do trabalho.

E o sujeito sabiamente vem com essa: todo trabalho tem as chateações. Trabalho é assim mesmo!

Chego de manhã, cedo. Passo antes em algum lugar na beira da estrada para comprar um biscoito e um queijo colonial para acompanhar o café que vamos tomar juntos.

Antes de começar a gravação e o trabalho, mais uma vez sou surpreendida! Ale, o compositor que vive in the middle of nowhere, improvisa algo no piano.

Quando senta na banqueta e tira a tampa do piano, mostra a inscrição na madeira. “Ele foi fabricado em 1909”. Em Nova Iorque!

Depois de dedilhar um pouco de jazz, explica que arrematou aquela relíquia de uma senhora, moradora do bairro Restinga em Porto Alegre.

Imagino a aventura para levá-lo até aquele lugar, in the middle of nowhere. Ele relata que o piano tombou e quase ficou imprestável.

Por sorte, nada grava aconteceu. Não fosse assim, não estaríamos ali, conversando e curtindo boa música antes de começar o trabalho.

Analisando esse pequeno capítulo de uma manhã de trabalho, penso e reflito: como estou feliz.

Esse novo ritmo de vida, com outros ares e novas gentes, trouxe uma grande renovação. Trouxe mais: um novo sentido e novos desejos na vida profissional e pessoal também.

Talvez essa leveza que as pessoas daqui colocam em tudo o que fazem seja o ingrediente que estava faltando.

Afinal, quem tem a oportunidade de começar o dia escutando alguém dedilhar Philip Glass num piano fabricado em 1909 em Nova Iorque?

***









Comentários

  1. Belinha, que experiência mais diferente, quantas oportunidades mesmo seu trabalho te dá!
    E melhor de tudo: você está feliz!

    Beijão

    Myla

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  2. Massa mesmo Myla! Pense numa pessoa animada com a vida! Beijao e muita saudade!

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