Três documentários para entender o 11 de setembro

Esta semana o bombardeio ao Palácio La Moneda no dia 11 de setembro de 1973 completou 50 anos. Diversas manifestações e solenidades marcaram a data por aqui. Eu mesma participei de algumas atividades no domingo. Fui a uma exposição do fotógrafo brasileiro Evandro Ribeiro no Museu Da Memória aqui em Santiago. Também participei de uma marcha de mulheres na noite de domingo em volta ao palácio do governo para pedir “Nunca Más”. 

Na marcha das mulheres em que pedimos "Nunca Más"

Levei a família comigo na exposição e o Cristián também me acompanhou na marcha já que ele foi fazer fotos para o acervo pessoal dele. Antes de levar a Gabi na exposição, mostrei uns quadrinhos para crianças que explicavam de forma muito gráfica o que aconteceu no dia 11 de setembro de 1973. Me senti na obrigação de ar algum contexto, principalmente, porque o colégio não falou absolutamente nada sobre esse dia.

Nas semanas anteriores aos 50 anos do golpe de estado no Chile, assisti com a Gabi ao curta chileno vencedor do Oscar 2016 “História de um Urso”. O filme ficou disponível no YouTube pela produtora responsável como parte das ações para lembrar a data. Aos poucos, fui introduzindo o tema porque na minha opinião é indispensável que as futuras gerações saibam o que aconteceu nesse país.

Principalmente, porque conhecer o passado, ajuda a entender a sociedade chilena hoje em dia. Também por isso vou deixar nesse post 3 dicas de documentários necessários para entender a sociedade chilena. Já falei sobre isso no Brasileiras Pelo Mundo. Mas essa lista poderia ser atualizada muitas e muitas vezes mais.

Chicago Boys

Um clássico indispensável para entender as bases econômicas e sociais da sociedade chilena durante a ditadura de Augusto Pinochet é o documentário da dupla Carola Fuentes e Rafael Valdeavellano. Eles contam a história do grupo de ex-estudantes do economista Milton Friedman que, 20 anos depois, transformaram o país no laboratório neoliberal da América Latina.

É impressionante... Uma das coisas que mais me impactou foi a entrevista com o Chicago Boy Sergio de Castro confessando que acompanhou o bombardeio ao Palácio La Moneda de um cerro. Quando perguntando sobre o que sentiu naquele momento, respondeu: uma imensa alegria. 

El efecto ladrillo

Dos mesmos criadores de Chicago Boys, nasceu esta produção que mostra o Chile depois da convulsão social de 2019. Um país dividido graças ao “efecto ladrillo” (efeito tijolo em livre tradução). Ladrillo era como os Chicago Boys denominavam o documento com as bases que deram origem ao plano de governo nas esferas política, econômica e social durante a ditadura militar chilena. 

O documentário acompanha duas pessoas em lugares diferentes na sociedade chilena e como elas vivenciam as manifestações no Chile em 2019. De um lado, uma ativista social que trabalha na periferia. De outro, um empresário com grande trânsito na alta sociedade e atuante na área de responsabilidade social empresarial. 

Mi País Imaginário

O documentarista chileno Patricio Guzmán também produziu um filme sobre a convulsão social no Chile. Patrício descortina o movimento através de entrevistas com pessoas que participaram das manifestações, em especial, integrantes da “Primera Línea”, as pessoas que literalmente tomavam a frente do combate com a polícia. 

Há entrevistas com pessoas que perderam a vista por causa da prática usado pelos Carabineros na época, que consistia em disparar diretamente nos olhos dos manifestantes. Em vários momentos, ele repete a frase “eu nunca imaginei...”. O movimento de 2019 foi algo realmente orgânico, sem partidos políticos ou organizações por trás dos protestos. 

Infelizmente, depois do plebiscito em que a maioria decidiu por uma nova constituição, o movimento perdeu a força que tinha. Pensando friamente, essa foi exatamente a intenção do governo ao propor uma assembleia. A partir do momento em que se institucionalizou essa grande mobilização popular, o governo conseguiu diluir a autogestão. 

O resultado foi a campanha do “Rechazo” vitoriosa e o Chile até hoje com a mesma constituição, aquela mesma dos Chicago Boys. Se existe algo que não mudou nesse país ao longo dos 50 anos, foi a desigualdade social, a falta de união e conexão dos chilenos. O Chile precisa urgente de mudanças porque enquanto isso não acontecer, continuará sendo um país dividido. 

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