Má-drasta
Ano novo,
vida nova, certo? Nem sempre. Muitas vezes, é só a folhinha do calendário que a
gente vira. A virada na nossa vida leva um pouco mais de tempo.
No meu
caso, todas as mudanças estão acontecendo muito rapidamente e, por isso, eu
ando bem cansada. Daí a falta de tempo para escrever no meu amado blog.
Assunto não
me falta. Um deles está na minha lista de pendências há meses. É um tema bem
delicado, mas decidi escrever porque li tanta coisa na internet que não me
segurei.
O tema em questão
é: madrasta. Sim, eu sou madrasta. Além de ser uma mãe de primeira viagem, há
três anos eu descobri a dor e a delícia dessa maternidade transloucada.
E tenho
lido muitas coisas bem cruéis a respeito desse assunto. Cruéis porque são julgamentos
baseados, provavelmente, nas notícias sensacionalistas envolvendo madrastas em
crimes bárbaros.
Vou citar
aqui apenas alguns exemplos e vocês vão entender rapidinho: o caso do menino
Bernardo e o assassinato da menina Isabela. Preciso dizer algo mais?
Essas
madrastas ajudaram a sepultar qualquer possibilidade de boa fama das madrastas.
Porque se você é madrasta precisa saber que a palavra em si já nasceu torta.
No sentido
figurado, madrasta se refere àquilo “de que provêm vexames e dissabores em vez
de proteção e carinho” (Houaiss), como na expressão “sorte madrasta”.
Para
piorar, ainda circulam textos na internet bem intencionados, mas muito
distantes das diferentes realidades que cada madrasta se depara.
Não é
apenas o ciúme dos filhos com o pai e a nova namorada, ou com a nova filha (no
meu caso atual) o que dificulta a relação com os enteados.
Há uma
série de fatores e o principal é como se deu a separação do casal e que tal é a
relação após a separação.
Eu li um
texto no Huff Post Brasil que me motivou a escrever esse post. A colunista em questão
se derretia em elogios aos enteados.
Muito fofo,
mas os meninos eram super educados segundo o relato dela. E acontece, querida,
que nem sempre é assim.
Muitas
vezes, mas muitas vezes mesmo, as crianças obviamente tomam as dores da mãe
numa separação. É mais do que justo, é natural e esperado.
Eu sempre
digo que eu faria o mesmo. O problema é quando você está no meio desse tiroteio
e tem que viver desviando das balas.
Os meninos
sabem se comportar super bem. Quando fomos ao Brasil, todo mundo elogiou o
comportamento deles.
Mas comigo,
na intimidade do dia a dia, eles relaxam totalmente. E, por uma questão de pirraça
mesmo, eles afrontam.
Junte aí a adolescência
que é um componente bombástico! Acrescente a herança de todas as dores de uma separação
mal resolvida e está feito o estrago.
Outo dia
também li um texto do Carpinejar (que eu adoro) malhando os pais que desistem
dos filhos.
Sinceramente,
adoro o Carpinejar (basta ver o link do blog dele ali ao lado), mas hoje eu
compreendo esses pais.
Nem todo
mundo tem a energia necessária para lidar e enfrentar a alienação parental. Não
mesmo!
Depois
desses três anos de convivência testemunhei tanta crueldade, tantas situações tristes
e deprimentes... jamais incentivei o abandono, pelo contrário!
Mas eu
entendo, sim, os pais que se afastam e esperam que os filhos um dia se deem
conta da manipulação por conta própria.
Uma vez
encontrei uma amiga de Porto Alegre aqui e comentei com ela da minha angústia
com essa situação.
Ela me
disse que os pais dela se separaram quando ela era criança e ela foi morar com a mãe
e a avó. As duas enchiam a cabeça dela contra o pai. Ele não aguentou e se
afastou.
Eles só
foram retomar o contato quando ela já era adulta. E ela me disse: diga para ele
não desistir! E é isso o que eu faço.
Mesmo
sabendo que é horrível o jogo psicológico. Cruel. E, algumas vezes, irreversível.
É uma pena.
Durante um tempo eu fiz bastante por essa relação com os meninos. Queria mesmo
que desse certo.
E toda vez
que estava melhorando acontecia alguma coisa intencional para colocar tudo a
perder. Até que eu desisti. E sabe o que aconteceu? Fiquei grávida.
E nasceu a
minha filha. E meus enteados AMAM de paixão a irmã. São loucos por ela. A gente
continua tendo estresse na nossa relação e já aceitei que isso vai levar anos
para mudar.
Mas a
chegada da minha filha me ajudou a desviar o foco. Antes disso, já pensei
milhares de vezes em me separar. Porque não é fácil. Não mesmo.
E cada relação
é única. Cada situação é particular. Não dá para generalizar ou julgar. Por isso,
eu quis escrever esse post.
Ser
madrasta não é sempre uma maravilha. Ficar ao lado da pessoa que você ama e
testemunhar situações extremas de alienação parental é muito forte.
Por isso, não
dá pra concordar com a poesia do Carpinejar, nem com o texto bem humorado da
colunista do Huff.
A vida nem
sempre é um filme com a Julia Roberts como protagonista e um final feliz. Viver
cansa. Mas a gente vive e sobrevive!
***
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