Cartinha virtual

Querida tia Inês, minha adorada e nobre “caxica” como eu gosto de te chamar, finalmente consegui tempo para responder a sua cartinha.

Vergonha? Um pouquinho, sim. Mas sei que você entende perfeitamente o quadro caótico e completamente desordenado que se encontra minha vida agora.

Em primeiro lugar, preciso te dizer que amei receber a cartinha! Achei um gesto tão fofo e amoroso! Quantas pessoas hoje em dia ainda sentam e escrevem algumas palavras no papel?

(Com exceção do Michel Temer - que escreveu uma cartinha rancorosa - acho que são poucos os que usam esse meio com esse fim!)

Quase ninguém, tia! E esse teu gesto, realmente, me tocou profundamente. Talvez para você não seja algo tão sobrenatural, afinal, você é uma artesã de mão cheia!

Está acostumada a usar braços e mãos para produzir objetos carregados de amor e carinho. Mas eu sou um ET nesse sentido. Não tenho talento algum para manualidades!

Meu negócio é a escrita. Adoro escrever! Não necessariamente numa folhinha de papel da galinha pintadinha!

Da sua cartinha, o que eu lembro bem foi quando você me perguntou como eu estava me saindo com a maternidade. Se eu estava gostando, curtindo, etc.

Eu esperei para responder a cartinha porque naquela época eu estava muito ocupada. Sem tempo para nada! Eu continuo bem ocupada, é verdade, mas não dá para esperar outro ano virar e te responder, né?

Quando a mãe ainda estava aqui, eu quebrei um dente comendo pão. E demorei quase dois meses para conseguir ir ao dentista para arrumá-lo!

Minha ideia era ir ao oculista antes de viajar ao Brasil para fazer os óculos aí. Obvio que eu tive que desmarcar todas as vezes que pedi hora!

Também precisava ir urgente (jajajajajajaja) ao dermatologista, mas também tive que cancelar as duas consultas que marquei.

Parece que tudo acontece quando a gente está enlouquecida tentando dar conta da nova vida de mãe.

Nunca quebrei um dente na vida, imagina! Tinha um pequeno cisto no meio do peito há anos. Nunca me incomodou.

Justo durante a amamentação o bichinho inventou de inflamar e quase me matou de dores!

No meio de tudo isso, eu ali, tentando ser mãe de primeira viagem. Tomei um pau com a amamentação. Consegui me acertar com a Gabi.

Quando estava tudo fluindo, chegou a hora de introduzir os alimentos. Eu faço as papinhas dela. Ontem à noite, inclusive, fiz várias.

Sempre gostei de cozinhar. E para mim é um momento bem gostoso preparar a comidinha da Gabi. No início ela não queria saber de nada. Agora, já está comendo bem.

Aliás, não foram apenas os pequenos prazeres que mudaram com a maternidade. Ser mãe, aqui no Chile, mudou bastante a minha vida de imigrante.

Para mim, que trabalho bastante com linguagem, essa etapa ampliou o meu vocabulário. Logo no início eu descobri o que é “matrona”, lembra? A enfermeira que auxilia o médico no pré-natal e durante o parto.

Depois, as pessoas me perguntavam: donde te vas a mejorar? E eu pensava: que diabo é isso? No fundo, elas queriam saber onde seria o parto: no Chile, ou no Brasil. E, posteriormente, onde eu iria passar pós-parto.

Aprendi que a fralda é o “pañal” e assadura é quando o bebê fica “cocido”. Graças a Deus a Gabi só ficou assim uma vez!

Além da linguagem, minha vida social também está mudando. Por exemplo, eu já tinha poucas amigas aqui. Agora, tenho menos ainda!

Algumas se afastaram porque também foram mães e estão tão ocupadas quanto eu. Outras não têm filhos, mas se ocupam com outras coisas.

Mas o fato é que agora que a Gabi está um pouquinho maior, comecei a conhecer outras mães. Na nossa aula de yoga, no parquinho onde ela anda de balanço, ou no jardim do condomínio.

Aliás, eu diria que eu e Gabi estamos fazendo novas amizades. E isso é muito legal!

E, por último, mas não menos importante, a maternidade também está mudando a minha vida profissional.

Todos os trabalhos que eu tinha antes de ser mãe compensavam porque era sempre um dinheirinho que entrava.

Agora, já não dá mais para pensar assim. As despesas aumentaram e vão continuar a aumentar cada vez mais. É importante retomar a vida profissional que está bem estancada há alguns anos.

Esse 2016 promete! Quando chegar ao Brasil, vou cumprir a nossa tradição de levar presentes para Iemanjá. Ela sempre foi muito generosa comigo.

Agora, mais do que nunca, preciso da proteção de todos os anjos e santos. Afinal, tenho uma linda filha para cuidar e criar com muito amor, carinho e alegria.

Quando estiver por aí, vamos nos ver , tia! Quero te beijar e abraçar para retribuir teu carinho!


Um beijo e até breve! 

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