Um milhão de amigos

Vocês certamente conhecem o refrão daquela música do Roberto Carlos em que ele canta todo animado: eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar.

Pois é, essa música é bem famosa aqui no Chile. O Roberto Carlos, particularmente, é um artista bem conhecido, respeitado e querido pelos chilenos.

É comum tocar algum clássico dele nas rádios do Chile. Na maioria das vezes, tocam as versões em espanhol. De vez em quando, em português.

Apesar do sucesso aqui pelos Andes, duvido muito que Roberto Carlos tenha escrito essa letra pensando no Chile.

Aliás, se ele realmente conhecesse os chilenos, jamais cantaria que quer ter um milhão de amigos. Oh, no!

Fato: é difícil amizades aqui. Comprovado pelas diferentes brasileiras com quem eu tenho conversado pessoalmente.

Tenho uma amiga que mora aqui há mais de sete anos. Ela trabalhou aqui como vendedora em loja de roupas. Dessa experiência, ficaram apenas duas amizades, uma delas brasileira!

Essa mesma amiga fez amizade com uma vizinha colombiana, que foi embora do Chile há uns dois anos.

Outro dia conheci no salão de beleza , que pertence a uma amiga brasileira, outra brasileira, super simpática, de Fortaleza. Está aqui há dois anos, casada com um chileno (como a maioria de nós) e também reclamava do mesmo problema.

Já tinha percebido isso e na lista de brasileiros no Chile do Facebook ficou mais claro que essa é uma dificuldade dos brasileiros e estrangeiros em geral.

Os chilenos são fechados. Ponto. É uma característica deles. Se isso é bom ou ruim, não vou entrar no mérito.

É um problema, sim, para quem vem de fora como eu. Mas perceber que essa não é uma dificuldade minha, ou seja, é difícil mesmo estabelecer amizades aqui, me deu um baita alívio.

Percebi que não adianta ficar insistindo. As coisas são assim e paciência. Melhor aceitar e estar feliz com os poucos amigos que tenho aqui do que tentar dar uma de Roberto Carlos.

Afinal, sempre fui uma pessoa de poucos e bons amigos. Prefiro me manter fiel a minha essência e ser feliz com as amizades que tenho.

Além das amigas que já conheço há quatro anos, quando morei aqui pela primeira vez em 2010, fiz mais um par de amigos nesse período em que estou no Chile.

De 2010, conservo a amizade das brasileiras casadas com chilenos como eu: a Michele e a Celma.

Foi nessa época que fiquei bem amiga da sogra da Michele, a Vicky. Uma chilena bem simpática.

Também tenho uma amiga bem querida que namora um chileno desde essa época. Ela é dos Estados Unidos, a Maggie.

A Maggie é professora de inglês e juntas constatamos que a natureza do nosso trabalho também restringe um pouco a questão das amizades.

Explico: é complicado ficar amiga de alunos. Depois, é mais difícil manter a hierarquia necessária em alguns momentos do aprendizado.

Da nova leva, tenho dois bons amigos. A Andrea, chilena, casada com um fotógrafo também. Nos vemos pouco porque ela mora fora de Santiago.

E tenho outro amigo, muito querido, o Marco, que é fotógrafo e colega do meu amor. Os meus amigos chilenos costumam comentar também das dificuldades de relacionar-se com seus patrícios aqui.

É com essa galera que conto quando preciso conversar, rir e chorar. São pessoas com as quais sei que posso contar.

Prefiro cultivar e manter essas amizades do que viver frustrada tentando mudar uma realidade que está aí e não me resta nada mais além de aceitar.

Para alguns de vocês, esse post pode não fazer nenhum sentido. Para os estrangeiros que chegam aqui, como eu, diz muito.

Um dos meus alunos de Português, de Porto Rico, casado com uma chilena, puxou esse assunto comigo há alguns dias.

Pra minha surpresa, não é uma dificuldade das mulheres brasileiras, mas dos estrangeiros em geral aqui no Chile.

É bom saber que a gente é normal e que as coisas são assim mesmo. Ajuda a gente a valorizar mais ainda nossos amigos.

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