Eu e las nanas
Quando
morei em Santiago, em 2010, asissiti a vários filmes chilenos. Entre eles,
destaco “La nana”, ganhador de alguns prêmios internacionais.
O roteiro é
simples, mas muito interessante. Trata-se da história de uma típica empregada
doméstica que trabalha na casa de uma tradicional família chilena.
O Chile não
tem a mesma tradição escravista do Brasil, por isso, aqui é mais parecido com o
modelo europeu.
Em geral, a
maioria das pessoas, inclusive eu, faz a sua faxina, literalmente. Somente as
famílias muito ricas, em áreas super nobres, têm o luxo de uma empregada.
Nesses
casos, tem inclusive mais de uma empregada: tem faxineira, cozinheira e babá,
no caso de quem tem filhos pequenos.
O filme
retrata super bem a sociedade chilena e como é forte o que chamam aqui de “clasismo”.
Basicamente,
é a definição de uma pessoa com base no lugar onde ela estudou, no bairro em
que ela vive e no sobrenome que ela carrega.
Não
pretendo me aprofundar neste tema aqui, talvez em outro post, mas para quiser
saber mais, aqui vai um link para um artigo (em espanhol) do jornal The Clinic.
O fato é
que na última semana comecei a conviver e conhecer melhor o universo das nanas.
Também ficou mais claro como funciona o clasismo.
Comecei a
dar aulas numa dessas casas de família, localizada num bairro super nobre de
Santiago.
Para chegar
lá, vou de metro. Baixo na última estação da linha mais antiga do metrô. De lá,
pego carona com o meu aluno, que tem um super carro.
Quando
termina a aula, um “colectivo” passa para me buscar. O colectivo é um táxi
dividido entre vários passageiros que viaja grandes trajetos até uma linha do
metrô.
Minha aula
termina às nove da noite. Nessa hora, somente as “nanas” estão voltando para
casa. São as nanas “portas afuera” porque não dormem no local de trabalho.
E elas vão
animadamente conversando, contando causos, falando dos grandes perigos de se
trabalhar em enormes casas de famílias ricas.
Todas elas
já vivienciaram tentativas de assalto nas lindas casas dos cerros santiaguinos.
Por isso, têm medo de ficar sozinhas.
Me sinto na
pele do Claude Lévi-Strauss. Lembrei-em dele porque eu adorava as aulas
de Antropologia na faculdade de Jornalismo. Agora, sou a própria antrópologa explorando esse universo desconhecido.
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