Envelhecer longe de casa
Semana que vem o Cristián comemora 50 anos muito bem vividos até aqui. Apesar de sua bonita trajetória, ele está bem deprimido e sem vontade nenhuma de comemorar. Celebração de aniversário é aquela coisa oito ou oitenta. Ou a pessoa realmente curte e se diverte, ou bate uma nostalgia danada.
Santiago, Chile, 2008, Parque de las Esculturas |
Apesar da resistência dele, eu e Gabi temos planos. Buscamos presentes - que a gente pode nem dar - na internet. Olhamos a previsão do tempo na esperança de que a gente pegue a estrada e viaje para fora de Santiago com destino incerto, pode ser praia, ou montanha. Tanto faz.
Começou a chover, algo totalmente inesperado nessa época do ano, a temperatura baixou. Os acessos às termas continuam fechados na montanha e, por isso, não podemos nem pensar em acampar. Por outro lado, a praia no litoral chileno é assim: você sai de Santiago com o maior sol e calor e quando chega lá, tudo nublado... Será que é uma boa ideia sair da cidade?
Continuando nosso delírio de festa, também pesquisamos ideias de bolo de aniversário. Como será que ele gostaria? Pouca cobertura, pouco recheio, muita fruta. Hummm, um naked cake com recheio de brigadeiro branco, cobertura de coco em flocos e muitas frutas vermelhas em cima para decorar.
Não vamos convidar ninguém além da minha sogra, nem meus enteados. Afinal, eles têm sido grande parte do estresse e desgosto do Cristián nos últimos anos. Impressionante como aquele cara magrinho, alegre, de havaianas se transformou num rabugento, barrigudo que nunca tira o boné, apesar de não sofrer de calvície...
Nem temos espaço para receber muitas visitas. Para manter todos os seus dependentes (filhos e neto), o Cristián faz malabarismo e nós, sacrifícios. Moramos num apartamento pequeno, com cozinha americana e uma máquina de lavar roupa num dos banheiros...
Nem tudo está perdido, em janeiro, mudamos de novo para um apartamento com mais espaço. Até lá, pegar a estrada e mudar um pouco de ares parece sim ser a melhor alternativa. Fugir do caos que nos rodeia. Contemplar paisagens criadas sem a intervenção do homem.
Reviver os dias em que eu visitava o Chile como turista e a gente pegava a estrada ouvindo canções em português e sonhando com um futuro bom. Jamais imaginamos que esse futuro chegaria tão rápido. Aqui estamos, em 2024, 16 anos depois, uma filha, dois gatos, um carro, muitas dívidas e contas para pagar, sempre no corre, mas a Receita de um Lar Feliz continua pendurada numa porta da cozinha. Lembrando que todo dia requer um pouquinho de cada ingrediente para adoçar a vida e não se deixar levar pelo rodo cotidiano.
Feliz aniversário, Solsito. Amor, I Love You.
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