Coisas que nunca fiz antes, mas fiz no Chile

Esse ano eu completo 11 anos morando no Chile. Não são 11 dias, nem 11 meses... São intensos, longos e muito bem vividos 11 anos. Teve maternidade, terremoto, conquistas inéditas, casamento, funerais, militância politica, encontros, despedidas, trabalho novo e muitas histórias para contar. Ainda assim, tem tanta coisa que falta eu viver aqui que 11 anos parece muito pouco.

Voltando a usar meu cabelo cacheado

Um dos últimos acontecimentos que vivenciei aqui me fez pensar isso. Pela primeira vez na minha vida, em 47 anos de existência, doei sangue. Isso mesmo. Nunca, jamais, em toda minha vida, tinha sido doadora. Foi algo bem simples, numa sexta-feira qualquer, mas que me fez pensar muito nisso. Como tem coisas para viver e fazer que eu NUNCA fiz.


Doei sangue porque a bebê de uma amiga brasileira estava internada, necessitando transfusões de sangue quase que diariamente. Graças a Deus, ela se recuperou e já está em casa sendo muito bem cuidada e amada pela família. Quando fui doar sangue, a enfermeira comentou que muitos brasileiros tinham ido doar. Deu um calorzinho no coração.


Pode parecer uma bobagem, mas imaginar que seu sangue vai estar correndo nas veias de outra pessoa, em outro país... ou que minhas plaquetas podem ajudar no tratamento de algum paciente aqui no Chile me faz pensar em muitas coisas...


Outro evento inédito, que também tem a ver com a saúde, aconteceu dia desses aqui perto de casa. Eu estava saindo de manhã com a Gabi num sábado para ir numa pracinha. Estávamos quase chegando na esquina e vi um cara descendo a rua de scooter. De repente, escutei um estrondo forte. Pensei: algo aconteceu. 


Me aproximei com a Gabi e vi que o cara estava estendido no chão e o scooter ao lado de pé. Ele não se mexia e perguntei se ele estava bem. Não quis movê-lo porque sempre ouvi que quando alguém sofre um acidente assim com risco de algum traumatismo o ideal é não mover a pessoa e esperar o socorro.


Como ele não se mexia, nem respondia, resolvi ligar para um número de emergência que a administração do bairro tem. Liguei e a pessoa do outro lado da linha começou a fazer várias perguntas: ele esta sangrando? Ele consegue falar? Consegue se mexer? Pede para ele ficar deitado e esperar o socorro.


Aqueles minutinhos de conversa pareciam uma eternidade, principalmente, porque quando liguei o cara começou a gemer. Para mim, parecia que ele estava tendo um ataque do coração, ou um AVC. Graças a Deus o socorro chegou super rápido. Vieram de moto com a caixa de primeiros socorros e em seguida chegou uma viatura. 


Nesse meio tempo, chegaram varias pessoas e, como eu estava com a Gabi, decidi ir embora porque não queria que ela visse mais nada. Jamais tinha passado por uma situação assim na minha vida. Nunca precisei chamar socorro para salvar a vida de alguém. 


Outra novidade aqui no Chile é uma mudança no meu visual. Estou retomando meus cachos depois de anos alisando o cabelo. O processo é lento e demorado. Já são dois anos sem alisar o cabelo, hidratando, cuidando e cortando com uma especialista em cachos para conciliar essa mudança com a chegada dos fios brancos. Pois é... envelhecer longe de casa é intenso, mas isso é assunto para outro post.


A lista de coisas inéditas vai continuar crescendo. Em dezembro, temos um casamento para ir, mas não é qualquer casamento. É uma cerimônia judaica e será a primeira vez que vou participar de uma. Cada acontecimento é um aprendizado, uma nova vivência nesse capítulo que ainda estou escrevendo no Chile. Até quando estarei aqui, realmente, não sei. Mas essas experiências me fazem refletir sobre tudo o que ainda é possível viver enquanto ainda estamos vivos. 


Que comece a nova conta regressiva para celebrar esses 11 anos em grande estilo. 

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