O Chile é bom, apesar de alguns chilenos

Como sempre, fiquei longos meses afastada do blog. Não é por falta de assunto, mas tem acontecido tanta coisa por aqui que fica cada vez mais difícil manter a disciplina e atualizar o blog. Amo escrever e sinto falta. Tento não ser tão exigente comigo mesma porque sei que ninguém consegue dar conta de tudo com perfeição. Mas há duas semanas aconteceu um lance tão chato que senti a necessidade de escrever de novo aqui no blog. 

Algumas pessoas já sabem que trabalho numa agência de marketing digital. Comecei a trabalhar com eles fazendo uns bicos e, uns dois anos depois, eles me chamaram e fui efetivada. Isso já tem três anos e, nesse período, teve a pandemia que mudou muito a dinâmica do trabalho.


Várias pessoas foram demitidas ou pediram demissão. Muita gente nova chegou (falei sobre isso num texto para o Brasileiras Pelo Mundo) e outros optaram definitivamente pelo trabalho remoto, ou seja, trabalhar de casa. Eu também estava nesse esquema até começaram algumas pressões para a gente ir pelo menos duas vezes por semana.


Voltando ao presencial


Em princípio, por causa do limite de pessoas, o esquema era bem organizado, mas com o fim das restrições, cada vez mais e mais gente voltou ao trabalho presencial. Eu mesma estava assim, só que nem sempre conseguia manter uma periodicidade por causa dos horários da Gabi na escola e do Cristián no trabalho.


Como ele é fotógrafo num jornal onde trabalham cada vez menos pessoas na seção dele, ele acaba tendo muito mais plantões de fim de semana, turnos que trocam de última hora para substituir alguém que faltou, ou pediu uma folga... enfim, por conta disso, eu preciso me virar nos 30 para buscar a Gabi no colégio. Porque aqui somos A e B.


Não sou aquela pessoa espontânea que você pode chamar meia hora antes para tomar um chopp porque, muito provavelmente, eu não vou poder ir. Isso limita bastante a minha vida social, mas é da vida... faz parte. Eventualmente, saio com minhas amigas, sempre combino antes com o Cristián para que a Gabi não fique sozinha.


Como era antes?


Dito isso, na era pré-pandemia, eu costumava sair mais seguido com os meus colegas. Porque, geralmente, eu saía direto do trabalho para um happy hour. A Gabi ainda estava no jardim, então, ela saía mais tarde e ficava mais fácil tanto para mim, quanto para o Cristián. Isso mudou em 2019, quando começaram os protestos aqui no Chile. Nessa época, o jardim fechava mais cedo porque o setor onde a gente morava era muito perto de onde se concentravam os confrontos entre a polícia e os manifestantes.


A maioria dos colegas com quem eu saía já não está mais na agência. Perdi bastante as minhas amizades nesse sentido porque a minha vida social gira em torno do trabalho aqui. É claro que tenho outros amigos que conheço em diferentes instâncias, mas a turma do trabalho era bem animada. A gente fazia churrasco na casa um do outro, saía pra tomar chopp em barzinho, tinha grupo de whatsapp... 


Quando voltei pra agência conheci as caras novas e, a maioria, era de pessoas jovens, muito jovens mesmo... Eu saí com essa turma em uma ocasião apenas, que foi depois do passeio de confraternização em 2021. Nesse dia, eu fui embora mais cedo (como de costume) e o pessoal continuou a celebração.


A turma nova


Em 2022, tivemos muitas intrigas no trabalho, fofocas, um clima pesado, diferente... mesmo não estando todos os dias, dava para sentir que já não era mais o ambiente relaxado de antes. Os colegas da turma que eu saía eram muito tranquilos, levavam instrumentos para tocar, a gente comprou uma manta para sentar no parque depois do almoço, saíamos para almoçar, organizávamos café da manhã e almoços em conjunto...


Não é por nada que nesse novo grupo, muitas pessoas entravam, ficavam alguns meses e, de repente, iam embora. Com muita gente foi assim. Uma dessas pessoas era minha colega, ela foi contratada para substituir uma menina que adorava. A gente se chamava de “sis” porque tínhamos o mesmo sobrenome. Ela era uma doçura e nessa época (em plena pandemia) a gente fazia reuniões virtuais tomando café e conversando sobre a vida... não apenas trabalho.


Quando chegou a nova colega juro que tentei dar uma chance e não implicar porque eu gostava mais da anterior (ela pediu demissão porque conseguiu um trabalho melhor). Mas era uma garota super fechada, sabe aquela pessoa que você não sabe se está sempre de mal humor, ou se a cara dela é assim mesmo? Pois é... essa era a Caro. Uma chata!


O fato é que várias vezes eu tentava chamar para almoço, happy hour e nada... ela sempre tinha alguma coisa. Na única vez em que fomos almoçar, ela nos chamou (eu e o Seba, nosso colega) porque ia com outros colegas da agência, já que era despedida de uma menina nova (pra variar). Uma coisa que é importante mencionar: a galera da geração Z não está nem ai para a estabilidade profissional. Eles querem subir rápido, ganhar rios de dinheiro e tem que ser agora, que nem naquele meme! Isso define muito o perfil que passa pela agência onde eu trabalho.





O meme existe


Foi o que aconteceu com essa chata, ela também pediu visto para morar na Austrália e consegui. Pediu demissão, não fez despedida o que eu achei super estranho e comentei com o meu chefe. Ele disse: se fosse você, você faria uma despedida com o pessoal daqui? Eu disse: claro que sim, mas eu sou eu! 


Acontece que, há duas semanas, houve sim uma despedida. Só que nem eu, nem meu outro colega, nem meu chefe fomos convidados. Fiquei sabendo porque vi nas histórias de um colega que estava no evento. Eu fiquei de cara... e sinceramente, sem entender nada.


Comentei com alguns colegas no trabalho, que também foram excluídos da despedida, e a conclusão foi de que teria sido por causa da idade (pior ainda). Sei lá, eu nunca fui assim, de excluir as pessoas por causa da idade... especialmente em se tratando de ambiente de trabalho. Você convive com pessoas de diferentes gerações e tá tudo bem.


Podia ser etarismo, ou pior...


Só que não termina aí... ficou pior ainda porque comentei com a colega que senta ao meu lado se ela sabia que tinha rolado a despedida. Ela me responde: sim, sabia, fomos eu e fulana que organizamos. Gente, juro que fiquei surpresa! Ela veio me dizer que não sabia quem convidar, sendo que ela trabalha na área administrativa da agência, ou seja, sabe quem trabalha com quem e até quanto ganha cada um! 


Pra piorar, ela emendou dizendo que tinha falado com algumas pessoas, mas que a própria menina que estava saindo tinha falado diretamente com outras. Ou seja, ela excluiu totalmente as pessoas que faziam parte do núcleo dela. Achei horrível.


Muitas pessoas com quem conversei tentaram em dar algum tipo de explicação, ser empáticas e tentar entender a atitude FDP dela. A única coisa que eu penso é o seguinte: ela vai morar na Austrália, ela vai cortar um dobrado que ela não tem noção e, anotem o que estou dizendo, vai passar por coisas muito piores.


O mundo dá muitas voltas e se tem algo que aprendi nesses 10 anos de Chile e 19 anos morando longe de casa é que a lei do retorno é implacável. Não falha nunca! Depois desse episódio, pedi ao meu chefe para adotar o esquema de trabalho remoto de forma permanente, assim como outros colegas fizeram depois da pandemia.


Graças a Deus, ele disse sim. Porque esse lance chato mostrou que não estou perdendo absolutamente nada no convívio com as pessoas que hoje trabalham no mesmo lugar que eu. Já foi um ambiente amistoso, divertido, repleto de risadas e companheirismo. Hoje está mais para um ninho de cobras. A pandemia acabou, mas ela realmente mudou nossas vidas pra sempre.


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