18 anos sem meu pai

No dia 22 de agosto, completaram-se 18 anos da morte do meu pai. Quando ele faleceu eu tinha 26 anos e estava apenas começando a minha vida longe dos meus pais. Tinha me mudado pra Brasília e, a partir dali, tive tantos trabalhos, conheci tantas pessoas, culturas e lugares diferentes, provei novos sabores, fiz minha primeira viagem internacional... Ufa! Tanta coisa legal que eu gostaria de ter compartilhado com meu pai...





Eu não era criança quando ele faleceu, mas tinha vivido pouca coisa comparada com tudo o que experimentei até hoje. A gente tinha uma boa relação nos últimos tempos e, por isso, eu fico muito feliz e sou extremamente grata. Especialmente ao meu terapeuta na época, o Marcos. Foi muito importante a ajuda profissional dele para que essa perda fosse encarada de uma maneira muito tranquila.


Lembro daquele dia em detalhes. A gente acordou cedo com alguém ligando para a casa da minha mãe. Tinha dormido mal e no colchão porque nessa época eu já morava em Brasília. Só tinham me mandado buscar porque o estado do meu pai estava cada vez pior. Ele morreu de câncer e era paciente terminal, então, quando chegou a hora, já era bem previsível, menos pra mim. 


Foi um grande choque no dia em que entrei na UTI e ele estava entubado, inchado, amarelinho, carequinha, sem as sobrancelhas. Lembro que comentei: se ele estivesse lúcido, não deixaria que fizessem isso com ele. Provavelmente, ele estava naquele estado apenas para que as pessoas, como eu, pudessem despedir-se.  Mas aquilo é tão chocante, que a gente demora a assimilar.


Hoje eu lido de uma forma diferente nesse tipo de situação, como quando faleceu minha amiga Andrea. Ela estava assim quando fui visita-la, mas aí eu consegui me despedir dela. Mesmo porquê era uma amiga querida, não o meu pai deitado naquela cama de hospital. 


Enfim, fiquei feliz porque estava perto da filha dela, que tem apenas 20 e poucos anos e perdeu a mãe tão cedo, como eu perdi meu pai. Procurei dizer pra ela aquilo que talvez ninguém me disse: que era uma oportunidade para ela se despedir, com calma, e estar perto para ela poder fazer a passagem dela em paz.


Visitei meu pai num dia e no outro, ele faleceu. De manhã cedo nos ligaram para que a gente fosse para o hospital e lá nos deram a notícia. Lembro que eu e meu companheiro na época cuidamos de tudo para o velório e a cremação. Só chorei mesmo na cerimônia pouco antes dele ser cremado.


O saudoso padre José, que era muito amigo da nossa família, fez um sermão tão bonito em homenagem ao pai, que desabei chorando. Lembro também que nos disseram que podíamos levar os arranjos de flores. Quando a pessoa é cremada, as flores depois são descartadas por razoes obvias!


Aqui no Chile, no dia do funeral da minha amiga, também nos disseram a mesma coisa. Pediram pra gente levar as flores já que elas depois seriam descartadas. Assim como na cremação do meu pai, separei um arranjo no dia da despedida da minha amiga e levei pra casa aquelas flores. 

Talvez trazer as flores seja uma maneira de desapegar aos poucos, já que a gente vai para uma despedida definitiva e sabe que depois daquele dia, não vai ter mais nenhum abraço, nenhum sorriso, nenhuma lembrança viva daquela pessoa. Apenas os afetos que guardamos na memória do coração.  

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