A saga dos exames médicos no Chile
Se vocês pensaram que a saga dos meus exames tinha chegado ao fim, trago novidades. Ainda não! Confesso que tinha pensado em escrever justamente sobre esse assunto quando recebi um telefonema que confirmou a necessidade de escrever esse texto.
Estava eu bem tranquila nos meus afazeres de casa, do trabalho e da escola da Gabi quando recebi uma mensagem no meu celular. Algo mais ou menos assim: olá, Isabela, meu nome é Fulana de Tal, sou técnica do laboratório onde você fez seus exames, por favor, me ligue de volta assim que puder.
Uau! O que vocês pensariam se recebessem uma mensagem assim? Boa coisa, não né? Pois é. Devolvi a ligação em seguida, mas eu meio que já imaginava como seria a conversa. Aliás, já tinha ensaiado na minha cabeça porque de tudo o que passou, faltou comentar aqui a parte mais importante, que foram os eventos que aconteceram antes dos exames.
Por isso, vou começar por aí. Resolvi fazer os exames nesse laboratório porque meu convênio cobria, era perto de casa (podia ir caminhando) e porque tinha hora disponível. Marquei num sábado e fui na segunda-feira de tardinha fazer a mamografia. Acho que eu era a última paciente.
Fui atendida por uma recepcionista super simpática, que me tratou melhor ainda quando percebeu que eu era brasileira. Enquanto eu fazia o pagamento da mamografia, perguntei se faziam ecografia mamária e ela me disse que sim, então, aproveitei para marcar esse exame também.
Ela tinha um horário no dia seguinte, pela manhã, justo num horário em que a Gabi estava no colégio. Perfeito, agendei e fui no dia seguinte. Como era de dia, tinha muito mais gente do que no dia anterior, inclusive, com espera.
Outra vez fui atendida pela mesma recepcionista que foi um amor, de novo, e pediu que eu aguardasse porque iriam me chamar, exatamente como no dia anterior. Pois bem, enquanto estava esperando, meio apreensiva por estar numa sala de espera com mais gente em plena pandemia, alguém ligou para a recepção.
A recepcionista que atendeu a chamada perguntou: quem ingressou a paciente Isabela Rrunqueira? E a minha recepcionista simpática levantou a mão. A colega deu uma bronca nela e em seguida ela me chamou e me acompanhou até o segundo piso, me deixou lá esperando e disse que chamariam pelo meu nome.
Lá em cima, várias mulheres esperando, nenhum funcionário, todo mundo meio perdido... Então, uma moça começou a perguntar para as funcionárias que saiam para chamar as pacientes quando ela seria chamada. Provavelmente, assim como eu, ela tinha algum compromisso.
Colei na moça porque também não queria ficar esperando, mesmo porque já tinha esperado lá embaixo, apesar de ter chegado no meu horário, que era 9:45 e o dela, 10:00. Lá pelas tantas, subiu uma funcionária (a mesma que tinha feito a minha mamografia na noite anterior, lembro disso). Antes dela entrar na sala de exames, a moça interpelou a técnica que mandou ela passar.
Pensei: putz! Passou na minha frente. Esperei, esperei, esperei... até que a paciente saiu e como a menina não me chamou em seguida, bati na porta. Ela abriu de cara amarrada e perguntou qual era o meu horário, falei e ela respondeu: tem que esperar.
Nisso, uma senhora que tinha chegado depois de mim, mostrou pra ela uns papeis e ela mandou a senhora passar. Fiquei p da vida! Esperei um pouco e desci, fui na recepção falar com a minha “amiga” e pensei: vou remarcar, melhor, muito estresse.
Quando falei com a recepcionista simpática, ela disse: vem comigo. Subiu, foi lá na sala de exames, bateu na porta e falou com a técnica, que nisso tomou da recepcionista a minha requisição. Pronto, fui sequestrada, pensei, agora vou ter que ficar aqui até a outra paciente sair, já que não tenho nem o papel com a requisição do exame...
Esperei, esperei, esperei... até que a senhora saiu. De novo, a técnica não me chamou. Bati na porta e ela abriu, com uma cara mais emburrada impossível! Pedi a ela que me entregasse a requisição para remarcar o exame. Ela respondeu: mas eu já ia te chamar.
Como eu já falo com várias expressões chilenas, usei meu chilenismo para reclamar e me fazer entender. Disse que ela tinha me feito esperar demais, ela disse que eu tinha chegado atrasada, respondi que não, que cheguei no meu horário, mas me disseram que tinha que esperar lá embaixo.
Então, ela percebendo a situação disse: bom, já que não é sua culpa, nem minha, você quer fazer o exame? Juro que pensei: não vou fazer porque não tem como essa situação terminar bem... o resultado, pois é, vocês sabem...
Por isso, quando a chefe dessa técnica me ligou quase um mês depois para conversar sobre o resultado dos meus exames já sabia exatamente o que dizer pra ela. Porque se a técnica que fez os exames tivesse conversado comigo, perguntando sobre meu cisto, comentado qualquer coisa sobre meu histórico médico, teria informação suficiente para fazer uma avaliação, no mínimo, decente.
Isso ficou claro pra mim quando fui fazer outro exame que meu ginecologista pediu logo depois dessa confusão toda. Eu e ele combinamos de eu nunca mais voltar nesse laboratório e fazer na clínica onde sempre vou. Dito e feito. A médica que me atendeu conversou comigo, fez várias perguntas durante o exame, enfim, totalmente diferente.
Mas voltando ao telefonema inusitado... a médica que me ligou perguntou se eu tinha retirado os exames pessoalmente. Disse que sim. Em seguida, quis saber se eu tinha ido a um médico para consultar. Respondi que sim, ao meu ginecologista – que já tinha meu histórico médico – e numa dermatologista.
Expliquei que os dois descartaram câncer de mama de cara e que, realmente, já tinha até retirado o cisto sebáceo, já tinha o resultado da biópsia e comentei com ela, por alto, sobre a funcionária que me atendeu. Disse que ela não era obrigada a saber meu histórico médico, mas que se tivesse perguntado, poderia ter evitado tudo isso.
Ela, obviamente, defendeu a funcionária dizendo que era grande (o cisto), eu disse que sim, que era feio, mas que era mais questão de estética porque nunca senti dor e com esse contexto de pandemia, a última coisa que eu pensava era em retirar um cisto sebáceo por vaidade.
Nada disso foi suficiente, ela continuou insistindo, perguntou se meu ginecologista era especialista em mama, que nesses casos ela aconselhava consultar um especialista, respondi muito firme: não, mas ele tem meu histórico, ele inclusive tratou esse cisto quando inflamou logo depois do meu parto, ele teve que drenar, então, ele sabia que era um cisto sebáceo.
Outra vez, ela continuou firme na argumentação: mas estou vendo aqui que estava muito próximo da mama e parece que tinha uma inflamação. Respondi, outra vez: sim, estava semi-vascularizado e inflamado, mas a dermatologista conseguiu retirar tudo, isso também apareceu na biópsia.
Como eu vi que ela seguia, tratei de encerrar a conversa antes que me irritasse. Uma coisa é oferecer um serviço ruim, a outra é ter a oportunidade de se redimir pelo erro, se desculpar e insistir. Agradeci e disse que estava muito tranquila com os profissionais que havia consultado. Ela se despediu e, sinceramente, não sei se ficou satisfeita.
Li muito nos dias em que fiquei esperando minhas consultas médicas. Pesquisei bastante sobre mamografia, câncer de mama, cisto sebáceo e afins. Uma das melhores entrevistas que eu vi foi uma conversa do Drauzio Varella com a radiologista Vera Aguilar. Vou deixar o link porque a quantidade de informação importante que tem nessa entrevista é para tranquilizar muitos corações e mentes.
Essa história toda mexeu demais comigo. Comecei a seguir a hashtag no Instagram e tenho visto histórias lindas de mulheres que ganharam ou que estão na batalha do câncer de mama. Uma das lições que eu tirei da minha experiência aqui no Chile é de pagar mais, esperar mais, mas fazer meus exames num lugar de confiança, com profissionais realmente comprometidos com o trabalho e os pacientes.
Esse entre tantas outras coisas que aprendi nesses dias tão intensos e que, certamente, ainda vão render mais histórias para compartilhar.
Comentários
Postar um comentário