O que mudou no Chile depois do 18 de outubro?

Desde que começaram os protestos no Chile, em outubro do ano passado, vários brasileiros costumam perguntar sobre a situação no país. Com o plebiscito marcado para o fim de abril de 2020, muita gente quer saber se é seguro visitar Santiago e onde ficar hospedado. Muita coisa mudou no Chile depois do 18 de outubro, por isso, é bom ficar esperto.

Evite hospedagem no Centro de Santiago


É fato que desde o início das manifestações tudo se concentra no local que tradicionalmente divide Santiago entre os ricos e pobres. A ex-Plaza Italia e atual Plaza Dignidad é o epicentro dos principais protestos na cidade. Então, mesmo que pese no bolso, evite hospedagem no Centro.

Prefira Las Condes, Vitacura e, até mesmo, Providencia. É mais caro, sim, mas os próprios manifestantes já admitiram que é mais difícil alcançar estas regiões da cidade por causa do forte policiamento.

NOI Hotel Vitacura


Prefira passeios fora de Santiago


Se essa não é a sua primeira vez no Chile, prefira passeios fora de Santiago. Você pode ir a Cajón del Maipo, visitar as vinícolas nos vales próximos da capital, ou conhecer o litoral. É verdade que algumas cidades, principalmente Valparaíso (onde fica a sede do Congresso Nacional) também são palco de protestos violentos. Mas a grande maioria das cidades respira ares bem mais tranquilos que a agitada capital chilena.

Há várias empresas que organizam passeios personalizados como meus amigos da León de Montaña (@leondemontanachile no Instagram). Acompanhem a conta deles e fiquem por dentro dos tours disponíveis. Comecem a planejar a viagem agora mesmo.

Evite conversar sobre política ou assuntos delicados


O Chile vive, hoje, um momento de extrema polarização ideológica. Se você não quer fazer inimigos, evite falar sobre alguns assuntos como política. A menos que você seja um excelente ouvinte e consiga ficar calado, vai por mim. As pessoas facilmente se ofendem, estão com pouca paciência para o contraditório e levam tudo o que você diz a ponta de faca, como a gente diz na minha terra.

Dá para entender a raiva dos chilenos e o descontentamento deles, mas lembre-se de que mesmo depois de tanto tempo de protestos eles não tiveram nenhuma conquista significativa. A classe política está totalmente desprestigiada e eles não se sentem representados por nenhuma corrente política, seja de esquerda, de centro, ou de direita.  



Um novo olhar sobre Santiago


Não demorou muito para que o capitalismo se apropriasse das manifestações massivas em Santiago. Além dos tradicionais vendedores ambulantes que comercializam bandeiras Mapuche, camisetas e lenços com diversas estampas simpáticas ao movimento, um tour foi criado especialmente para proporcionar aos turistas estrangeiros uma experiência, digamos assim, revolucionária.

O polêmico passeio era comercializado na plataforma Airbnb e depois de várias críticas o anúncio foi retirado do site. Como resposta, voluntários criaram o “Chile despertó, free tour”. Esse é um roteiro grátis pela zona onde se concentram os protestos e que foi tomada por grafites e intervenções artísticas.

Passeio pelo Centro Cultural Gabriela Mistral


Se você já conhece Santiago, prepare-se para surpreender-se com o novo cenário quase irreconhecível. A principal estação de metrô no centro (Baquedano) está fechada e totalmente destruída, sem previsão de reabertura. Dentro dessa estação, havia um posto policial dos Carabineros e algumas pessoas foram detidas ali nos primeiros dias da convulsão social. O lugar ficou amaldiçoado e não há previsão de reabertura, apesar da polícia já ter informado que vai retirar o posto dali.

Se por um lado há muitos lugares destruídos, queimados e fechados (vários estabelecimentos comerciais usam proteção em suas fachadas), a arte tomou conta do muros e paredes de várias construções. É uma experiência que muita gente curte e aproveita para registrar em fotos e vídeos e levar como lembrança desse período de efervescência no Chile.

Futuro incerto


Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer nos próximos meses. Especula-se que março (com a volta às aulas) e abril (véspera do plebiscito para nova constituição) serão meses de muitas manifestações na cidade. Eu moro no coração da zona conflito e evito pensar sobre isso.

A única certeza que temos é que o Chile ainda vai passar por muitas mudanças e protestos nos próximos dois anos, pelo menos. Todo esse processo que começou em outubro de 2019 ainda deve seguir por algum tempo até que a população realmente conquiste as mudanças que tanto deseja.

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