Como sobrevivi ao ano de 2019 no Chile?


Eu nunca mais escrevi no meu blog. Amo escrever, mas realmente tive que deixar de lado o blog para dar conta de todas as outras coisas durante esse ano que passou. Retomei minha colaboração no Brasileiras Pelo Mundo e vou deixar u compilado de textos para vocês do que foi publicado lá para quem ainda não leu.

Recomendo a leitura, especialmente para quem tem planos de vir morar no Chile. Mas imagino que com tudo o que vem acontecendo desde outubro deste ano muitas pessoas devem estar curiosas sobre o Chile, portanto, vale a pena ler.

Retrospectiva 2019


Além dessa retrospectiva do BPM, vou deixar aqui um breve relato deste ano que passou e tentar explicar um pouco minha ausência. Me senti inspirada por um texto que acabei de ler da jornalista Cynara Menezes, a Socialista Morena, baiana radicada em Brasília que escreve sobre política y otras cositas más.

O ano que está terminando foi incrivelmente difícil para quem se identifica com o socialismo e os preceitos de esquerda. Uma onda conservadora tomou conta do mundo e afetou a vida de todos nós.



Não apenas com relação à política, mas nos afetos e nas relações pessoais. Para mim, a coisa ficou pior ainda desde que começou a crise no Chile. Quase nenhum familiar sequer me perguntou como estamos desde que começou a convulsão social aqui. Em compensação, nesse mesmo período, uma tia um dia simplesmente me bloqueou por causa de um story meu no IG falando de política já que ela não concordava com a minha opinião.

O que salvou este ano de ser uma verdadeira tragédia foram as pequenas coisas. O café com as amigas, o chopp com os colegas, o brincar com a Gabi, a yoga num dia qualquer, a visita da minha mãe e da minha melhor amiga no início do ano, a militância enquanto era possível sair sem medo da repressão policial. 

Nem tão bom assim


Esse ano tinha tudo para ser maravilhoso, apesar do Bolsonaro e do Piñera. A gente mudou para um apartamento maior depois de anos morando apertados. Consegui um trabalho estável depois de anos fazendo bicos e passando aperto.

Mas parece que os sete anos de Chile ficarão para sempre marcados não pelo eclipse solar que comoveu os chilenos de norte a sul, mas pelos protestos sociais que agitaram as ruas em todo o país.

Além disso, no plano pessoal, estou vivendo uma das crises mais fortes no meu relacionamento. Não tem sido fácil atravessar esse momento e lidar com a solidão imposta pela conjuntura atual. Fica difícil até mesmo tomar um café com uma amiga para conversar.



Ciao rede social


Ao mesmo tempo, me decepcionei com muita gente. Pessoas que nunca apareciam nas nossas atividades aqui, de repente, tornaram-se super militantes. E parece que virou um mantra repetir: eu reconheço meus privilégios para que as portas da simpatia se abram automaticamente para você.

Eu, que nunca fui uma pessoa privilegiada aqui, estou sofrendo horrores com a situação atual do país. Trabalho, ando de transporte público, caminho muito pelas ruas do Centro, compro na feira e no comércio informal, enfim, fazia tudo o que agora os apoiadores do movimento social enchem a boca e batem no peito com orgulho para defender como hábitos socialmente justos.

Estou tão cansada que dei um tempo de redes sociais. Desativei minha conta pessoal no Facebook por tempo indeterminado e deixei de publicar conteúdo no Instagram. Uso muito o Twitter, como sempre, porque ali é uma rede social onde está permitido algo cada vez mais escasso: ser.



Triste, louca ou má?


Nesse momento sou uma pessoa triste, deprimida, pessimista. Me agarro ao meu universo particular para conseguir sobreviver a esse turbilhão. Estou feliz porque retomei a leitura esse ano e li bastante. Feliz por estar trabalhando com algo que eu gosto e com pessoas de bem.

Mas muitas outras coisas me deixam triste. E isso afeta minhas relações, em especial, com meu marido e minha filha também. Então, escrever esse texto foi uma forma de dar vazão à criatividade e refletir um pouco.

É verdade que a yoga nos ensina a respirar e coordenar respiração e movimento. Mas parece que quando tudo acontece na vida ao mesmo tempo a gente perde essa coordenação. São tempos difíceis. Mas bora lá, escutar muitos mantras e reggae para ver se passa logo.



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