Como manter amizades morando fora do Brasil?


-->
Manter as amizades morando longe de casa é um tremendo desafio. Esses tempos tive uma experiência muito ruim que me mostrou claramente como eu me engano com relação a quem são meus amigos de verdade desde que estou morando no Chile. E olha que já moro longe da minha cidade natal há 15 anos!

A gente pode imaginar que as redes sociais são um jeito bem eficaz de manter contato com quem está longe. O problema é a superficialidade e a falta de espaços de interação mais profundos. A gente aperta um botãozinho e sente que realmente reagiu ao que pessoa publicou, mas é uma doce ilusão (ou amarga, às vezes).

Antes de morar no Chile, tive dois momentos muito importantes da minha vida em que realmente pude contar com a ajuda dos meus amigos virtualmente. Mas eram outros tempos e meios mais eficazes no quesito interação.



O luto virtual


A primeira experiência foi em 2003 quando meu pai faleceu de câncer. Naquela época, eu tinha recém mudado para Brasília e o e-mail me ajudou a entrar em contato com meus amigos. Por ali, pedi orações, pensamentos positivos e boas energias para o meu velho.

Foi assim também que avisei meus amigos quando ele morreu. Avisei do velório e da cremação. O e-mail é um espaço mais privado e talvez por isso muita gente não só respondeu, como também apareceu. Quem estava longe, ligou. Mas foi uma grande demonstração de carinho, apoio e amor.

Lambendo as feridas


A segunda vez em que usei o mundo virtual para desabafar e tive uma grande acolhida foi quando me separei em 2007. Chorei todas as minhas penas no meu blog e os amigos, de Porto Alegre e Brasília, principalmente, não me deixaram na mão. Ninguém ficou indiferente a minha dor.

As mensagens de carinho saíram da realidade virtual para o plano físico. Meus amigos, literalmente, me levantaram do chão. Eu que pensava que o mundo tinha acabado e que iria morrer de dores de amores, ressurgi das cinzas com o apoio de tanta gente linda.

Mas o mundo mudou, as redes sociais transformaram nossas relações de um jeito tão tóxico que não é mais um lugar seguro para você falar sobre sentimentos. O blog quase ninguém lê. E-mail somente para trabalho.

A praga da felicidade virtual


A maioria se comunica em redes como Facebook e Instagram, onde publicar uma foto só vale se for para falar de alegria e coisas boas. Se você publica um desabafo, você é a diferentona e chata da internet.

Pior ainda se faz um desabafo para um espaço onde há mais de 500 pessoas e todas elas têm algo a dizer sobre a sua vida, mesmo que te conheçam há pouco tempo, tenham participado muito pouco dos seus mais de 40 anos de vida, ou tenham se afastado bastante no decorrer dos anos.

Para mim, é super triste porque tenho poucas amigas aqui no Chile e Santiago é uma cidade dominada por workholics. Se você não for assim, é impossível pensar em sobreviver, por isso, nem condeno meus amigos. Mas, como eu vivo de bicos há praticamente seis anos, sinto muito a solidão. Com a maternidade, a coisa piorou!

Explode coração


De vez em quando, fico puta! Explodo. E, nesse dia, fiz um desabafo no Facebook, o lugar que virou um esgoto, especialmente depois das eleições no Brasil. Daí, para segurar o carrinho de mão que começou a despencar ladeira abaixo, nunca mais. Nem o mais poderoso dos deuses seria capaz de consertar esse equívoco. E contra isso não posso lutar. Apenas aceitar.

Assim como a distância, a indiferença e a indelicadeza dos amigos - que cada vez sabem usar menos as palavras para comunicar algo - machucam bastante. Naquele dia, chorei sozinha, de noite, deitada na cama. Chorei por mim e meus amigos virtuais. 

De volta às origens


Fazia tempo que não escrevia um texto tão intimo e pessoal no blog. Me fechei justamente porque meu instinto de preservação me obrigou a fazer isso. Mas não é essa a minha característica, nunca foi. Sou uma pessoa intensa, que gosta de ter poucos amigos, verdadeiros e bons amigos. 

Morro de saudade dos amigos e familiares que fiz em Brasília porque eles são parte de um período bom e de uma fase madura na minha vida. Me levantaram quando eu precisei, me incentivaram a seguir meus sonhos, inclusive, o de viver meu grande amor. 


Vida de expatriada

Morar fora é super complicado. Quando leio os textos das colunistas do Brasileiras Pelo Mundo vejo claramente que não sou a única a passar por esses perrengues. Isso me ajuda muito no processo de aceitação e assimilação dessa nova realidade de mulher, imigrante, mãe, estrangeira, expatriada, desempregada, desgarrada... 

Você que está feliz com suas escolhas, plena, realizada, que bom! Sinta-se bem, celebre, afunde menos o dedo na dor alheia e tente multiplicar o amor que o universo te entregou.

Isso é amizade. Isso é ser amigo de verdade, longe ou perto, vendo todos os dias, ou uma vez por ano, conhecendo há um dia ou 40 anos. É como aquela frase do Gandhi, seja a mudança que você quer ver no mundo. Apenas, seja. Eu, o universo e todos os corações partidos no mundo agradecem!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sobre o 20 de setembro no Rio Grande

Feriados e datas importantes no Chile: confira o calendário e programe-se!

20 anos sem meu pai