Onde estou?
Faz muito tempo mesmo que
eu não escrevo no blog. Pura falta de tempo. Entre trabalho, dentro e fora de
casa, resta pouco tempo livre.
E nesse tempo gosto de
fazer absolutamente nada. Ainda que eu ame escrever, principalmente no blog, às
vezes, falta assunto e, noutras, simplesmente, o principal: a inspiração.
De vez em quando tenho
ideias de assuntos e começo a elaborar o texto mentalmente, mas assim como as
frases se formam na minha cabeça, elas se desfazem como as nuvens no céu.
De repente, fica tudo sem
forma e nenhum conteúdo… Provavelmente, por conta do cansaço. Cheguei num ponto
em que a rotina me consome grande quantidade de energia.
E quando tenho um tempinho
fico tão cansada que não consigo fazer nada… É algo impressionante para quem
sempre foi super ativa como eu.
Não sei o que realmente me
desgasta: se o metro cheio todos os dias, o mau humor das pessoas, o clima
tenso no trabalho, dormir pouco de noite…
Mas o fato é que me sinto
bem cansada e, algumas vezes, completamente, sozinha. Apesar de ter um
companheiro criando junto comigo a nossa filha.
Grande parte desse sentimento
vem dos comentários que as pessoas fazem e que me deixam perplexa.
Sei que elas não fazem por
mal, mas são coisas que ficam rondando a minha cabeça. Às vezes, penso que não
escrever sobre isso bloqueia todas as outras ideias que estão adormecidas.
Desde quando o Cristian
assumiu o cuidado da Gabi durante o dia e optou por trabalhar à noite ouço comentários
do tipo: que horas ele dorme?
Interessante que desde o
dia em que a Gabi nasceu eu nunca mais tive uma noite de sono completa e jamais
ouvi qualquer comentário a respeito.
Outro dia uma pessoa
também disse: puxa, mas você não pode fazer mais nada no seu dia cuidando dela!
Quando eu cuidava
integralmente dela o dia inteiro, jamais alguém me perguntou se eu precisava ir
a algum lugar…
Por outro lado, ele
consegue conciliar perfeitamente outras atividades que ele tem, inclusive,
manter os ensaios com a banda dele uma vez por semana.
É impressionante como as
pessoas se deslumbram e colocam no pedestal o pai que assume a criação dos
filhos.
Por outro lado, não existe
nenhum tipo de reconhecimento pelas coisas que nós, mães, fazemos diariamente.
Ah, Isabela, você tem que agradecer
que ele faz isso, ouço muito! E fico pensando: será mesmo que estamos em
2016???
Outro dia também ouvi
essa: coitado do Cristian, quando você está, ela nem dá bola para ele… Hello?
Adele, por favor, comece a cantar agora mesmo!
Sei que todos os comentários
têm a melhor das intenções com o pai que é uma pessoa maravilhosa, mas gostaria
de um pouco de compaixão também.
Afinal de contas, quantas
vezes alguém fez algum comentário sobre minha opção de ficar pouco mais de um
ano em casa, cuidando exclusivamente da Gabi?
E nesse período, trabalhei
colaborando como freelancer para blogs, sites e empresas. Entre uma mamada e
outra, lutando contra o sono, quando nem café eu podia tomar…
Sim, hoje eu tomo café, na
maior parte do tempo descafeínado, mas eventualmente algo com cafeína.
Também me permito tomar um
cálice de vinho ou uma cerveja, quando estou muito estressada para relaxar.
Ah, mas isso não pode! Claro
que não deveria, mas de qualquer jeito, fazendo tudo “perfeito”, a gente não
recebe nenhum elogio, mas crítica, essa não falta…
Desde o dia 31 de março de
2015 e até hoje quem acorda todas as noites para atender a Gabi de madrugada
sou eu. Ela ainda mama no peito e quem dá de mamar sou eu também.
Ela já fala “papa” quando
vê o pai, mas quando me vê, muitas vezes, ela só consegue dizer “teta”.
Tenho lido bastante sobre amamentação
prolongada, pois pretendo amamentar até os dois anos da Gabi. Dá trabalho, bastante.
Leio bastante para tentar não
ser tão dura com a opinião alheia e comigo mesma, procuro apoio no grupo de mães
que faço parte aqui no Chile, mas não está sendo fácil, como diria a Katia
cega.
Talvez seja essa indignação
contida que esteja bloqueando o nascimento de novas ideias. A falta de uma
perspectiva mais amorosa e solidária comigo.
É um conflito eterno e a
incapacidade de entender como as pessoas dão como certo que, por sermos mães,
temos que suportar tudo.
Que temos uma força
interior capaz de aguentar quietas e não descontar em nossos filhos nossas frustrações.
Não é verdade.
Isso é mentira. Ser mãe tem seus dias trash. E não são apenas as mães que criam
sozinhas.
Muitas de nós, que temos um
companheiro ao lado, participando ativamente da criação, ainda assim temos
nossos momentos.
Quero que fique bem claro aqui
que não se trata de não gostar de ser mãe, pelo contrário, eu gosto muito e
tenho momentos de grande felicidade, aliás, nos últimos tempos é a minha única
felicidade.
Mas é o fato de ser
empurrada para esse círculo de exclusividade e doação que me desgasta. A falta
de solidariedade das pessoas se você apenas menciona que tem outros desejos,
além de ser mãe.
Minha filha nasceu, mas eu
não morri. Nasceu uma mãe que também é mulher, filha, profissional, irmã,
amiga, amante…
É justamente porque a sociedade
me nega essa minha inteireza que eu sofro. E me sinto cansada. Exausta, lutando
contra um monstro.
Espero que escrever esse textão
me ajude a exorcizar um pouco pelos menos esses pensamentos demoníacos que
dominam a minha mente.
Se não posso fazer nada
para mudar esse mundo e tenho que aceitá-lo, pelo menos, me reservo o direito
de não permanecer calada.
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