Tá tudo bem
Há males que vêm para bem,
assim diz um velho ditado. Você pode até não gostar de frases clichês, menos
ainda de rimas baratas e frases de efeito.
Mas, em algum momento, a
vida vai te mostrar que a tal sabedoria popular tem seu valor.
E que, se um dia,
alguém pensou que essa frase tinha seu valor e resolveu registrá-la, pode ser
que ela tenha um fundo de verdade.
Nos últimos tempos, a vida
me mostrou exatamente isso.
A ruptura familiar e o
afastamento físico e emocional provocado pela distância espacial e pelos últimos
acontecimentos foram incrivelmente benéficos para fortalecer meus vínculos com
o Chile.
Isso mesmo! Hoje percebo
que isso era necessário para ter outra perspectiva da minha vida aqui perto da
montanha.
Passado aquele período de
tristeza pós-eventos depressivos familiares, a vida começou a sorrir de
novo. E as novidades vão preenchendo os dias
e dando novo sentido às mudanças.
Mudar é bom. Às vezes, a
única maneira da gente perceber isso é sendo empurrado pela vida para o novo.
O novo trabalho, os novos
imprevistos, a nova rotina, as mudanças que tudo isso provocou na nossa casa,
tudo isso, tomou conta da minha vida.
E a medida que as coisas vão
acontecendo, os problemas de antes vão perdendo a importância. Porque surgem
outras preocupações que realmente importam.
Quem vai cuidar da minha filha?
Ela vai ficar bem? Como vamos sobreviver ao fim das sonecas nas tardes? Aos
choros nas despedidas?
A principal consequência
disso tudo foi que a relação de casal saiu bem fortalecida. Eu resistia muito em
admitir que tinha uma nova família aqui.
O nascimento da minha filha
e a devida e necessária distância do Brasil, me ajudou a viver de verdade a minha
família: eu, Cristian e Gabi.
Meus enteados entram de
vez em quando na nossa rotina. Eles não embarcaram definitivamente na nossa
vida. Tudo bem. É um direito deles e eu apenas tenho que respeitar.
Nem por isso deixo de
incentivar e alimentar o amor que a Gabi sente pelos irmãos. É só falar no nome
de um deles que ela imediatamente olha para o porta-retratos onde os três posam
ao lado do pai numa fotografia.
E aí eu mostro para ela:
quem está aqui? E com o dedo vou mostrando um a um e nomeando para que ela
nunca esqueça.
Família é isso mesmo. Está junto, está
separado. Está de bem, está de mal. Está e não está.
A minha família está linda
e a cada dia estamos mais felizes, mais unidos e comprometidos.
Espero que a gente
continue assim por muitos e muitos anos. Ninguém sabe, na realidade, do futuro.
Sei que hoje é bom demais amar e ser amada aqui e agora.
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