Chá com bolo e afeto

No início do ano, contei aqui no blog sobre o bebê da nossa turma de yoga que faleceu. O Vicente tinha nove meses e lutou bravamente por sua frágil e curta vida.
Na época não consegui ir no velório, nem no enterro. Foi perto do aniversário da Gabi e fiquei com aquele sentimento de que estava faltando alguma coisa.
Queria dar um abraço na Eli, a mãe do Vicente. Conversar com ela, escutá-la e de alguma maneira mostrar que ela não está sozinha, apesar da imensa solidão que deve sentir desde então.
Consegui o contato dela com nossa instrutora de yoga e por várias semanas tentamos agendar um encontro. Foi difícil, mas esse fim de semana finalmente conseguimos.
A Eli voltou a fazer faculdade para ocupar o tempo livre e a cabeça com outras coisas. Com as férias da faculdade, sobrou tempo e ela me escreveu.
Chamei ela para ir na nossa casa. Descobrimos que moramos bem pertinho. Esperei por ela com chá e bolo de milho.
Quando ela chegou, a Gabi estava mamando e meio dormida no meu peito. Ela entrou no meu quarto, sentou na cama e ficamos conversando.
Falando da universidade, da Gabi, da nova vida com trabalho, da correria… O Cristian saiu e nos deixou mais à vontade.
Depois de alguns minutos de conversa e de quebrar o gelo, finalmente, consegui perguntar naturalmente sobre como ela estava.
Foi então que ela me contou tudo o que tinha acontecido com o Vicente e me falou também sobre a história de vida dela.
Aí compreendi porque ele a escolheu como mãe. Somente uma pessoa que passou por tantas adversidades tem a capacidade e a força necessária para cuidar de um bebê nessa situação.
Óbvio que ela se emocionou relembrando tudo o que passou e falou da culpa que sentiu. De várias coisas que, depois, repassando pareciam sinais.
Como foi difícil dar um abraço nela e lhe dizer que somos mãe de primeira viagem, que não sabemos tudo, que o que hoje parecem sinais eram coisas absolutamente normais.
Que difícil tentar dizer a uma mãe que se entregou totalmente ao filho doente, e que não conseguiu salvá-lo, que ela realmente fez TUDO.
Ela também me falou sobre o carinho do pessoal do nosso centro de yoga. De como todos foram super amorosos com ela e com Vicente.
De como realmente estavam espiritualmente mobilizados pela recuperação dele e dela depois que ele faleceu.
Isso me fez reascender um pouco a fé no ser humano. Saber que ainda há gente boa nesse mundo. Pessoas generosas e genuinamente belas e boas.
Me emocionei bastante escrevendo esse texto porque senti que esse encontro foi 100% uma conexão espiritual. Me senti muito conectada com a Eli.
Antes de sair, quando ela já estava na porta, ela me disse que algumas pessoas tinham se aproximado dela e que ela considerava isso um presente do Vicente.
Achei essa uma maneira tão linda de ver tudo o que aconteceu na vida dela. Fiquei feliz por poder ter feito algo por ela, ainda que seja o mínimo, mas algo.
***

No dia seguinte, quando voltava da feira, nos encontramos por acaso. Ela andava com uma amiga e, assim como no dia anterior, tinha uma carinha boa. Que bom!

Nosso grupo de yoga


Comentários

  1. ,Bela!Sempre linda a maneira como retratas o sentimento humano de uma forma tão verdadeira nos comovendo com tuas palavras. Prbens! Besos...

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  2. ,Bela!Sempre linda a maneira como retratas o sentimento humano de uma forma tão verdadeira nos comovendo com tuas palavras. Prbens! Besos...

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    1. Querida, obrigada pelo carinho! Estou atualizando o blog e só agora vi seu comentario acredita? Beijo grande

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