Um metrô para chamar de seu

O sonho de consumo da grávida moderna e urbana é um metrô todinho seu. Ou um ônibus inteiro à disposição.

Sim, mulher grávida fica de pé no transporte coletivo, várias vezes. Imagino que não seja diferente com as pessoas da terceira idade, ou “melhor idade” como alguns gostam de chamar.

O fato é que a gentileza é um objeto de desejo a cada dia mais em extinção nos nossos tempos modernos.

As pessoas andam super conectadas aos seus celulares e tablets, totalmente alienadas com os fones de ouvido e não olham para o lado.

Quando estão confortavelmente sentadas no coletivo lotado, obviamente, não olham para cima. Alguns fingem que estão dormindo.

Aqui em Santiago, não tenho carro e sou totalmente dependente do transporte público. Leia-se ônibus e metrô. O serviço não é ruim, mas como em toda cidade grande está colapsado.

O sistema não dá mais conta da quantidade de usuários. Nos horários de pique, é uma aventura muito desagradável andar de metrô em Santiago.

Tenho uma certa flexibilidade de horários por conta da natureza do meu trabalho. Entretanto, nem sempre consigo escapar dos horários mais terríveis no transporte público metropolitano.

E, como qualquer usuário, sofro. Grávida, então, é uma desgraça! Não pensem que as pessoas cedem o lugar imediatamente.

Já fiquei de pé várias vezes.  Quando comento essa situação, as pessoas me dizem que devo exigir o lugar para sentar.

Eu não faço isso. Em algumas ocasiões, outras pessoas o fazem por mim. Essa é a voz da indignação. Pessoas estranhas, que não conheço, delicadamente exigem de outros desconhecidos que sejam gentis.

For once in their life...

Reparei que os mais jovens são os mais indignados com essa situação. Normal. A gente espera mesmo da juventude é isso. Que ela grite e reclame.

Outra constatação nesse estudo antropológico involuntário é que geralmente os homens cedem mais o lugar do que as mulheres. Infelizmente...

De tudo isso, fica a certeza de que a gentileza é sim, importante. E o que deve nos unir é nossa sensibilidade frente ao sofrimento do outro e não apenas o espaço físico que compartilhamos nas ruas.

Quero guardar bem esse momento e ensinar a importância desses valores a minha filha. Espero que a Gabriela seja bem gentil com os demais.

Tomara que eu consiga ensinar-lhe algumas coisinhas e ceder o lugar a quem precisa seria uma delas.

***

Esta foto não é montagem. Foi tirada no final da Línea 1, do metrô de Santiago, num domingo de tarde. Dia de quase nenhum movimento.

Comentários

  1. Oi!!
    A gentileza foi algo que se perdeu ao longo dos anos mesmo.... Concordo contigo sobre o pessoal enterrar a cabeça nos smartphones e completamente ignorar o que se passa ao redor.

    Um caso extremo foi em San Francisco, onde um homem puxou uma arma no trem por várias vezes e ninguém viu pois estavam conectados com o mundo através de suas telas (http://www.huffingtonpost.com/2013/10/08/san-francisco-train-shooting_n_4066930.html)

    E também ficar exigindo lugar é o cúmulo, não é? O que acontece com essa gente em que a empatia aparentemente desapareceu? Acho que se todo mundo parasse um ou dois minutos das suas vidas super corridas para olhar para o outro e se relacionar (relate to) com a situação e se colocar no lugar, MUITOS problemas seriam resolvidos.

    Santiago, San Francisco, Porto Alegre... só muda o CEP... Mas espero que esse pessoal se dê conta e te ofereça o lugar para sentar!! :-)

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    Respostas
    1. Menina, how bizarre o lance desse cara em San Francisco! Mas é isso mesmo: estamos cada dia mais wifi e menos tête-à-tête. Uma pena... Beijao Fers! E obrigada pela audiencia!

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