O bonito e o feio

Há duas semanas, fui de oito a oitenta. Vi um lado bonito dos brasileiros e outro feio, bem feio.

Num dia, fiquei super lisonjeada porque lembraram do meu nome para trabalhar como jornalista na campanha presidencial.

Claro que a gente fica feliz cada vez que acontece algo assim. É bom ser lembrada pelo trabalho realizado e pelo profissionalismo.

Infelizmente, na mesma semana vivi exatamente o oposto desse sentimento. Fui a uma entrevista de trabalho aqui em Santiago e me senti ofendida.

Ofendida com o valor ridículo que ofereciam pela hora aula, como professora de Português. Decepcionada porque a dona do curso em questão é uma brasileira como eu.

Depois, pensando melhor, entendi que ela tinha me chamado apenas para me sondar. Deve ter ficado curiosa em conhecer uma brasileira que chegou há pouco por aqui e já chegou chegando.

Explico: esse mês termino o meu primeiro curso de Português em uma empresa grande do Chile. Realizei esse trabalho em 7 meses.

Trabalho com um livro diferente dos que geralmente são usados pelos professores de Português aqui. Meus alunos sempre comentam que minhas aulas são "tecnológicas" e "modernas".

Por conta da minha formação na área da Comunicação Social exploro bastante o que é novo, tanto em termos didáticos, quanto em recursos tecnológicos.

É também por causa dessa formação que posso oferecer aulas bem dirigidas aos assuntos de interesse dos meus alunos.

Mas nenhum desses atributos me ajudaria se eu realmente não tivesse prazer com a experiência da docência. Pra mim, é uma alegria estar em sala de aula.

Me divirto com os meus alunos e eles se divertem, muito! Pensando bem, agora, depois de escrever esse post, deveria sim me sentir lisonjeada.

Porque se essa mulher se preocupou tanto em me chamar para me sondar é porque eu realmente fiz alguma coisa certa!

Agora, começa uma fase meio nojenta aqui no Chile. Com o fim do curso, preciso prospectar novos alunos e já deu para notar que a concorrência, em especial dos compatriotas, não é nada leal.

Imagino que todos os brasileiros que vivem no estrangeiro e imigrantes de outras nacionalidades, como eu, passam por esses momentos. De incertezas, busca e muitas portas fechadas para serem abertas.

Não é uma tarefa fácil. Enquanto isso, vou precisa reduzir gastos, me dedicar bastante aos meus atuais alunos particulares e manter a cabeça tranquila para ampliar meu novo negócio.

Quem me conhece sabe que não foi nada fácil chegar até aqui. Por isso mesmo, não me entrego fácil. Como sempre digo pros meus alunos, vamu lá!