Índios


Considero-me uma pessoa de sorte, muita sorte. Poucas pessoas tiveram a oportunidade de viver algumas das experiências profissionais que tive.

Uma delas foi uma viagem ao Xingu, em 2010, para visitar a tribo dos Kuikuro. Não foi uma simples viagem.

Nosso guia foi ninguém menos do que o diretor do Museu Nacional do Índio, que tinha alguns quilômetros rodados visitando tribos em todo o Brasil.

Até hoje tenho aqui em casa, agora em Santiago, no Chile, uma peça de artesanato que ganhei de presente do chefe da tribo.

Antigamente, eram os índios que ganhavam presentes dos brancos. Foi assim que vários exploradores gringos conseguiram pisar em terras indígenas brasileiras.

Negociando a confiança em troca de um facão, um colar, uma bússola... Estou terminando de ler um livro que relata bem essa tensa relação entre brancos e índios.

Fiquei curiosa para conhecer a história do Coronel Fawcett, o cara que teria inspirado o personagem Indiana Jones.

O tal explorador inglês desapareceu na região do Xingu, procurando por uma misteriosa cidade que ele jurava estar repleta de ouro e riquezas.

Desapareceu junto com seu filho e mais um amigo em busca do sonho perdido. Várias expedições foram organizadas para tentar desvendar o mistério. Nada feito.

Até hoje, permanece um mistério o desfecho da aventura do Coronel Fawcett. Faltando 50 páginas para o fim do livro, posso dizer que para mim, não faz diferença.

Perdi totalmente o interesse e o encanto pelo personagem ao perceber que ele foi movido muito mais pela ganância do que pelo interesse científico.

Além disso, fica claro que o coronel considerava os índios interesseiros, preguiçosos e representantes de uma cultura inferior, em especial, os brasileiros.

Essa leitura me ajudou também a entender um pouco o isolamento que a Funai e as instituições brasileiras que trabalham pelos índios procuram dar às tribos.

O objetivo é preservar os índios dos aventureiros, curiosos e gananciosos exploradores que procuram, até hoje, trocar espelhos por algum tesouro escondido na floresta.

O coronel Fawcett não foi assassinado por índios revoltados. Ele foi morto pela arrogância, pela ganância e presunção.

***



Comentários

  1. Triste, não Bela?
    E pensar que até hoje essa relação indígenas/sociedade é tão pouco compreendida... Seja pela santificação, seja pela demonização dos índios!

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    Respostas
    1. Myla, terminei o livro. E o último capítulo trata da demonização dos índios. Esse tema sempre é tratado assim, de uma forma muito maniqueísta, e eu mesma acho um saco... Uma hora são os mais queridinhos do mundo, outra hora são um bando de vagabundos. E acho que quem influenciou bastante a postura deles fomos nós, brancos, quando tivemos o primeiro contato e trocamos sorrisos por quinquilharias...

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