Mundinho pequeno

Morar numa cidade pequena é como colocar uma lente de aumento na alma do ser humano. Tudo aumenta, amplia, cresce, assombra e intimida.

A gente percebe mais claramente a simplicidade das coisas, da vida e das pessoas. Vive intensamente momentos que passam batido na cidade grande.

Aqui, plantei a minha primeira árvore. Ontem à noite, vi um céu estrelado, como há muito tempo não via.

Mas não é só de romantismo e coisas boas que vivem as cidades pequenas. Domingo a cidade morre, literalmente. Nada fica aberto, nem os restaurantes.

Cansei de contar a quantidade de vezes em que perguntaram: tu não é daqui né? Não é muito diferente do que ouvir em Brasília: você e gaúcha? Ou do que escutar em Santiago: Colombiana? Venezuelana? Ah, brasileña.

Já me acostumei a ser uma estrangeira dentro do meu próprio país. Já fui estrangeira vivendo em outro país.

Não consigo ter esse sentimento de pertencimento a nenhum lugar porque me sinto filha do vento e com direito sobre todo o espaço terrestre.

Apesar dessa consciência ainda fico pensando na razão pela qual as pessoas fazem questão de estabelecer limites geográficos como forma de marcar território.

Depois ninguém entende bem as guerras santas nos países árabes, mas se no pequeno perímetro que nos cerca, colocamos a nossa cerca para estabelecer limites entre mim e ti, o que dizer de pessoas com orientações religiosas e políticas tão diferentes.

Nos grandes centros urbanos, no meio de tantos, andando entre várias pessoas desconhecidas, é difícil decifrar algo de bom, ou de ruim em qualquer pessoa.

Mas aqui, muitas vezes, as pessoas respeitam a proporção das ruas e são muito pequenas. Sinto falta da mentalidade cosmopolita que vi em vários lugares por onde passei.

Agora faz mais sentido para mim tantos vilarejos charmosos ao redor do mundo onde estrangeiros decidem atracar seu barco e viver.

Claro que os diferentes vão se juntar num lugar. Onde todos são estrangeiros, todos são livres para manifestar a sua identidade.

A gente tem mesmo esse desejo interno de reafirmar nossa origem. Gaúchos fundam colônias Brasil afora, gringos dominam praias paradisíacas pelo nosso litoral e por aí vamos.

Ainda bem que isso aqui é passageiro porque eu também quero, como muitos, fundar a minha colônia, mesmo sem saber bem aonde vai ser...

Comentários

  1. É, complicado toda essa essa 'rotulação geográfica'. Mas tem costumes que realmente são reconhecidos devido ao lugar de onde você mora. Nasci em Brasília, e, mesmo sendo daqui, reconheço o costume egoísta das pessoas que por aqui vivem. Num elevador, é difícil um braziliense entrar de cabeça erguida e te dar um bom dia. No mínimo, balança a cabeça e ainda pensa: porque esse cara ta forçando amizade? Percebi que somos assim depois que comecei a visitar outros lugares dentro do nosso próprio país e outros países. Os bolivianos dão de 10 a 0 no quesito atendimento e simpatia. Difícil dizer é até quando as pessoas vão se reportar dessa forma....

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  2. Bah, Gui, quando morei em Brasília sempre dizia que tive sorte em todos os meus enderecos, pois fiz amizade fácil com meus vizinhos de porta, com o porteiro, com o pessoal da limpeza. Aliás, no meu período de Brasília, fiz muitos amigos brasilienses, te confesso que fugia dos gaúchos para ampliar meu círculo de amizades e aprender com o diferente. Em outubro, vou de vez para o Chile e espero que minha experiencia lá seja tao positiva como foi em BSB. Beijao mochileiro das galáxias!

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