O que ninguém te conta sobre envelhecer

Essa semana vi um vídeo muito engraçado com a atriz espanhola Petite Lorena sobre ser mulher atualmente. Dei muita risada com o texto e a interpretação dela a respeito do protocolo infinito de bem-estar e cuidado feminino. É uma coisa muito chata mesmo e desgastante.

Photo by Amisha Nakhwa on Unsplash

No vídeo ela começa falando da dificuldade de ser mulher e conciliar os cuidados com a aparência, a vida profissional e pessoal, além da preocupação com a saúde. Como se não fosse suficiente, é necessário cuidar da saúde física (fazendo exercícios) e mental (indo a terapia).

Sem esquecer da alimentação porque temos que comer um monte de coisas essenciais e cortar tudo aquilo que faz mal (e quase sempre é muito gostoso). A lista continua com as exigências maternas e a expectativa da sociedade que insiste em estabelecer padrões cada vez mais difíceis de atingir.

Finalmente, para ser uma mulher feliz, você tem que ter um bom companheiro. Como encontrar esse parceiro? Se você encontrou, que bom, mas não pense que a lista acabou. Agora, você precisa manter a chama da paixão acesa.

Ufa! Podia ser mais simples? Pode ser muito mais simples. Acompanho muito as discussões sobre feminismo, maternidade e saúde da mulher, principalmente, depois que vim morar no Chile. Ser mulher e imigrante mudou todos os paradigmas que eu tinha enquanto vivia a minha confortável vida no Brasil.

Depois, com a maternidade, tive que reconstruir tudo de novo porque aí vieram descobertas inéditas a partir das experiências vividas no papel de mãe. Recentemente, foram os processos de perimenopausa e depois a menopausa que balançaram novamente os meus pilares.

Porque ser mulher é isso que a gente sabe, sente e vive até chegar a uma nova etapa. No caso da menopausa, foi muito importante para mim porque eu não tinha com quem conversar sobre o que estava passando. Comecei a procurar na internet e acabei descobrindo mulheres que falavam abertamente sobre esse assunto considerado ainda um tabu em algumas culturas.

Sinceramente, não tenho problemas com essa etapa da minha vida, mesmo porque eu me cuido, vou na gineco, tomo meus remédios, faço meus exames, incorporei alimentos na minha dieta, diminuí outros, passei a fazer exercício físico regularmente e de forma mais disciplinada. Ufa!

Mas a lista continua aumentando. Muitas dessas mulheres que são uma espécie de influenciadoras sobre menopausa na atualidade, estão muito longe da mulher nessa etapa que está tentando conciliar vida pessoal, trabalho, maternidade com o bem-estar físico e mental. Elas têm acesso a recursos que nós jamais teremos.

Por trás desse inocente discurso de que “os tempos mudaram”, tem sempre algum produto à venda. A ideia é vender um corpo ideal quando existem vários tipos de corpos; um suplemento ideal quando há diferentes carências no organismo de cada mulher; um estilo de vida possível quando cada uma está tentando viver dentro daquilo que se pode ser

Eu não me iludo, mas gostaria de poder envelhecer em paz. Não é só sobre deixar o cabelo branco ou tingir, mas também poder mandar tudo à merda agora que já sei tantas coisas que antes eu não sabia. Ter a liberdade para me vestir cômoda sem ter que estar sempre em função da moda.

Tem muito discurso do tipo: nossas avós pareciam ter muito mais idade que as mulheres de hoje, mas elas também tiveram uma vida mais difícil, com menos tecnologia e comodidade. Então, por que justamente agora que temos isso não podemos curtir? Temos que chegar até 100 anos buscando a eterna juventude porque ser velho na nossa sociedade te aproxima da única certeza que temos ao nascer: a finitude da vida.

Ser velho é ser descartável na nossa sociedade. A mulher na menopausa não produz mais só hormônio, ela deixa de produzir para nosso modelo de sociedade. A menos que ela se enquadre e seja uma ativa consumidora dos produtos +40, dificilmente será elogiada, valorizada e reconhecida.

Cansa muito e dá até um certo riso nervoso - parecido com o que se escuta nesse vídeo da atriz espanhola. Parece que nunca vamos chegar na etapa de usar o vestido florido azul calcinha com sandália rasteirinha, de cabelo grisalho, sentada na cadeira, tomando chimarrão e ouvindo rádio, que nem fizeram nossas avós.

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