Finalmente, assisti Maid!

Essa semana terminei finalmente de assistir à série Maid na Neflix. Digo finalmente porque li muito a respeito em grupos de mães e de mulheres. Nas conversas de whatsapp, todo mundo falando sobre o fenômeno Maid. Demorei a criar coragem para assistir porque não estava muito na vibe de dramas. 


Quando comecei a assistir, quase não consegui terminar de ver o primeiro capítulo. Um soco no estômago. Depois, fiquei pensando uns dias se continuava ou não. Ouvia mais e mais comentários, mas o que sentia não era curiosidade na trama e, sim, em descobrir como algumas mulheres conseguiam maratonear uma série como aquela?


Maid é uma porrada. É forte e intensa. Como eu. Quem me conhece sabe que a intensidade é uma das minhas características mais marcantes. Além disso, quando se trata de artes visuais, realmente mergulho nas tramas. Especialmente quando pegam fundo.


Jamais esqueci do dia em que o meu professor de jornalismo, Jacques Wainberg, afirmou de maneira enfática - usando as mãos como se elas nos ajudassem a compreender melhor suas palavras - que o cinema é manipulação. Depois de relatar a experiência dele numa sala de cinema, se revirando na poltrona, enquanto assistia ao Nicolas Cage, literalmente, bebendo até cair em Despedida em Las Vegas.


Tudo isso para nos dizer que quando vamos ao cinema temos apenas um desejo: o de sermos manipulados. Quando sentamos na cadeira, queremos que o diretor nos manipule. Por isso, lemos a sinopse antes de escolher os filmes. Há um desejo de mergulhar naquela história e quando isso não acontece, saímos frustrados...


No caso de Maid, mergulhei de cabeça na história, por isso, precisava assistir aos episódios aos poucos. Porque não é uma história bonita de superação. Até o momento em que a personagem Alex chega ao topo da montanha da universidade depois de fazer uma trilha com a pequena Maddy passam-se incontáveis horas de sofrimento, derrotas, desespero, angústia e medo.



Quando a Alex começa a lembrar de tudo o que ela caminhou para chegar naquele momento, desabei chorando. Porque também pensei na minha caminhada como mãe, mulher e imigrante. É muito difícil! Parece que você está fazendo uma trilha no leito de um rio e caminhando sobre as pedras, cruzando canais com forte correnteza, sem ter em quem ou no que se apoiar. Você vai escolhendo com cuidado o lugar onde pisar seus pés, mesmo assim, sai encharcada e, de vez em quando, perde o equilíbrio.


Apesar dessa tremenda identificação, minha única critica é, na realidade, uma observação de algo que já vi em campanhas para estimular a denúncia de violência doméstica, seja ela física ou psicológica. Colocar um alcoólatra no papel de agressor, é complicado porque, como a própria série retrata, dá a impressão de que as agressões são consequência do álcool, o que de maneira nenhum serve como justificativa.



Pior ainda, faz com que os agressores limpinhos, cheirosinhos e acima de qualquer suspeita, continuem a exercer suas agressões contando com a impunidade. Afinal de contas, "quem vai acreditar naquela louca". Porque muitos homens exercem abuso físico e psicológico e as mulheres nem percebem justamente pelo fato dessas agressões acontecerem de forma quase “natural” sem uso de álcool ou qualquer outra droga.


É preciso dissociar essas duas situações porque enquanto isso não acontecer, muitas mulheres vão continuar trancadas dentro de casa, escravas da própria família, sem vida social, sem trabalho, sem identidade, sem nada... com a falsa sensação de que cuidar dos filhos e dos marido, "aquele homem santo que nem bebe", é a melhor coisa que aconteceu nas suas vidas.

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