Algo morreu em mim

A Gabi completou um ano de vida e eu nem escrevi nada. Faltou tempo e ânimo! Na véspera, faleceu um bebê da nossa turma de yoga.

Impossível não me solidarizar com a dor dessa mãe! O Vicente não chegou a completar seis meses de vida.

Ele nasceu com um problema no coração e não resistiu. Ela dividiu toda a sua dor no nosso grupo de mães.

E aquilo me tocou tão fundo, muito forte. Que dor devastadora!

Perder um ser querido sempre dói. A minha perda mais forte foi a do meu pai há quase 13 anos.

Logo que ele morreu a família se uniu por conta de tanta dor e sofrimento. Hoje, já nos separamos de novo.

As velhas desavenças voltaram a rondar a nossa família. Ou melhor, essa família.

Todas as famílias têm dramas e problemas. E a minha não é diferente! Na minha viagem a Porto Alegre ficou evidente que novos muros se ergueram entre nós.

Muito maiores que a cordilheira dos Andes. Paredes tão altas que são impossíveis de escalar.

Há muitos anos moro longe deles e, provavelmente, nossos valores e visões de mundo foram se distanciando com o passar do tempo. Normal.

Essa família talvez não seja possível resgatar, mas há outras famílias. A família do coração, os amigos.

Desde que vim morar no Chile, já fui várias vezes ao Brasil e nenhum a Brasília. E foi nessa cidade que fiz grandes amigos.

A família do coração, aquela que a gente escolhe de verdade. Pessoas que me apoiaram nos momentos mais duros como a morte do meu pai, ou na minha separação.

Amigos que vieram me visitar aqui em Santiago e amaram a cidade! Pessoas a quem quero retribuir a visita na minha próxima ida ao Brasil.

Assim como formei essa família no Planalto Central, estou segura de que vou formar a minha família aqui também.

Já tenho algumas e novas estão surgindo com a maternidade. Além do grupo de mães da yoga, temos outro das mamães aqui do condomínio no whats!

Cada evento importante, como a vida e a morte, me conecta com essas pessoas de quem nasci longe, mas que o destino se encarregou de nos aproximar.

É triste perder um ser querido em vida, mas mais tristes são as separações por conta de desavenças familiares.

É duro ouvir de uma irmã que você está desejando a morte da própria mãe, mas é impossível manter qualquer laço afetivo com alguém que pensa isso de você.

Quem me conhece sabe que eu não tenho estômago pra isso. Sou muito transparente para fingir sentimentos. 

Pessoas vão e vêm, entram e saem das nossas vidas. E a minha tem sido particularmente generosa.

Esse fim de semana, depois de muito tempo, meus enteados finalmente vieram passar com a gente.

Foi muito bom! Curtiram e brincaram bastante com a irmãzinha deles. O clima entre a gente também estava muito melhor

Então, tenho fé de que, mesmo onde há uma força negativa trabalhando contra, a energia do universo se encarrega de tudo.

Amanhã é segunda-feira, um novo dia, uma nova semana, uma nova vida! Se hoje não está tão bom, daqui a pouco muda tudo.

Quem viver, verá! E, não, eu não estou contando os dias para enterrar a minha mãe!

***

Ainda que muito não acreditem, tenho uma novidade para contar: todo nós morremos um dia, ninguém sabe como ou quando.

Uns passam rápido por esse mundo, como o pequeno anjo Vicente, outros vivem alguns anos e tem sua vida interrompida como meu pai.

Outros vivem muito, muito mais! Eu não tenho a menor ideia de quantos anos me restam, mas eu sei que um dia também vou morrer!

Graças a Deus! Porque até hoje só vi zoombie, conde Drácula e vampiro serem imortais!