Escrever ou não, eis a questão!

Em outubro, completei dois anos de Chile. A vida anda tão corrida que nem tive tempo de escrever e fazer um balanço sobre esse período.

A melhor coisa que me aconteceu foi, sem dúvida alguma, a gravidez. Estou muito feliz e me sinto ótima!

De resto, me sinto frustrada em vários aspectos, confesso. Ontem, foi um dia em que eu chorei bastante por conta de uma nova frustração.

Lembram que eu comentei aqui que iria participar de uma oficina de criação literária? Pois então, até a semana passada eu estava bem motivada.

Mas ontem jogaram um balde de água gelada na minha cabeça. Foi muito duro...

Quero explicar primeiro a dinâmica da oficina: somos um grupo de oito mulheres de distintas áreas de formação.

Nossa tarefa consiste em produzir textos, geralmente contos ficcionais, a partir de fotografias nossas ou que procuramos na internet.

As condutoras da oficina são uma fotógrafa com mais de 80 anos e uma escritora que deve ter seus 40.

Depois de escrever o material, devemos imprimir e levar algumas cópias. Lemos o que escrevemos em voz alta.

Em seguida, o grupo todo comenta. Em termos de formato é igual à oficina que participei anteriormente, a de crônicas.

Na minha humilde percepção, imaginei que meu grande desafio era escrever bem em espanhol.

Tento falar bem, mas ainda tenho dificuldades em redigir um bom texto, sem utilizar expressões da Língua Portuguesa.

Infelizmente, ontem, ficou claro que esse não é meu único desafio. Aparentemente, eu uso muitos clichês nos meus textos em espanhol.

Imagino que isso se deva ao fato de que escrevo pouco. Na verdade, economizo nas palavras para evitar vexames.

Acontece que nas últimas sessões me empolguei com um conto que estava escrevendo e pelo qual recebi alguns elogios.

Decidi, então, retomar um texto que eu tinha reescrito e foi bastante criticado. Ontem, lamentavelmente, não foi diferente.

O pior não foram as observações em si, mas a forma como as minhas colegas de oficina fizeram seus comentários.

Uma colega me disse que ninguém fala da maneira como o meu personagem falava no texto. Ela me aconselhou a escrever mais em portunhol porque para ela isso enriquece meu trabalho.

Então, elas começaram a mencionar alguns exemplos e me senti exposta ao ridículo. Fiquei muito chateada.

A senhora fotógrafa recomendou que eu aceitasse a sugestão do grupo e, quando cheguei em casa, depois de vir caminhando e pensando na situação super desagradável que eu vivi, chorei.

Chorei muito de frustração. Decepção. Resumindo: entrei na oficina porque queria escrever bem em espanhol.

Ontem, um grupo de seis mulheres tentava me convencer a desistir de superar essa dificuldade porque... por que mesmo? Pra mim não ficou claro.

Acredito, sim, que é possível. Se eu não consegui alcançar esse objetivo nessa oficina, em algum outro momento, vai acontecer.

Exige esforço, estudo e dedicação. Mas como professora eu jamais desestimularia um aluno diante de uma dificuldade.

Jamais diria a uma pessoa: aceite seus limites. Sempre acredito que podemos superar as nossas dificuldades.

Seja nas faculdades onde lecionei, ou nas minhas aulas de Português, particulares ou em grupo, procuro salientar as qualidades dos meus alunos.

E, se tenho que apontar as dificuldades ou corrigir algum equívoco, faço isso com a maior delicadeza. É da minha natureza.

Talvez por isso mesmo as palavras de ontem me tocaram fundo e me deixaram muito triste. Falta uma sessão pra terminar a oficina, mas não vou voltar.

Não tem sentido ir mais. Em uma sessão não vou superar a minha dificuldade. E o grupo claramente prefere que eu enalteça esse “estilo literário” bizarro.

Expliquei às “meninas” (são mulheres de diferentes faixas etárias) que em outro momento da minha vida, pode ser. Hoje, procuro escrever bem porque é uma necessidade e uma prioridade.

Outra prioridade é fazer somente coisas que me trazem alegria e felicidade. Não vejo o menor sentido em estar reunida duas horas por semana à noite, ler, escrever e depois de ouvir algumas críticas ácidas, chegar em casa e chorar.

Não, não, não. A vida é muito curta pra isso.  Vocês não acham?

***



Comentários

  1. Oi Isabela,

    Li o seu texto e o que posso lhe dizer é: FUCK THEM....
    Como professora há mais de 10 anos acho errado criticar negativamente um aluno em sala de aula por qualquer que seja o motivo. Mas existem profissionais e profissionais em qualquer área. Você sabe que faço pós-graduação e já tive 6 professores diferentes: 3 super bons, 1 okay e 2 horríveis. HORRÍVEIS. De serem donos da razão. De pensarem "não me contrariem." E incrivelmente os piores são os doutores que trabalham em ambiente acadêmico....

    Quanto às colegas, talvez nunca saibamos por que elas são assim, pessoas que só criticam, que só conseguem ver algo ruim: por frustração com algo, por recalque, por infelicidade, por que não conseguem pagar as contas, por que têm problemas com a família, sei lá. Mas embora o incidente tenha lhe afetado, e eu sinto muito que você esteja assim, eu acho que você não deve sucumbir a ele. Eu acho que você deveria SIM voltar e terminar esta úlitma aula e ainda "double down" (meio difícil de traduzir, mas digamos que seria "não só fazer do seu jeito, mas aumentar a intensidade"). Elas dizem que você escreve em clichés? Pois bem, crie a personagem "Clara Cliché" e escreva só frases prontas.

    Só para terminar. Eu ensino e estudo inglês todos os dias, há 11 anos. Não há momentos em que eu não pense ou interaja no idioma, seja com amigos, seja lendo, pesquisando, vendo notícias. Mesmo assim, eu não sei tudo, e há vezes em que não sei responder perguntas de alunos. No início era horrível, mas agora eu sei contornar. Embora eu estude constantemente, sempre haverá algo a ser aprendido pois a língua evolui, muda, incorpora palavras de outros idiomas, elimina outras, volta a usar expressões esquecidas, e quem faz uma língua são as PESSOAS, não um livro de gramática.

    Deixe que isso seja um problema DELAS, não seu.

    Um beijão,
    Fers

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    1. Uau, Fer! Lavei a alma lendo teu comentário. Muito obrigada guria! Acabei de voltar de uma aula e minha aluna, que tabém fala inglês, definiu as minhas colegas como "a bunch of shit"! Ri muito! Adorei as tuas dicas e vou pensar mesmo nesse desfecho, quem sabe eu me sinta muito melhor? Beijo querida!

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  2. Não liga pra elas, Tia! Vc deve escrever super bem, e, SE POR UM ACASO não seja o caso, realmente, elas não precisavam ser tão duras. Mas vc deve escrever para si mesma, se vc gostar ou achar que ficou bom, que se dane os outros! Elas n tem o direito de ser dura desse jeito com uma pessoa tao legal e doce como vc. Se eu fosse vc, tinha falado umas poucas e boas pra essas mulheres aí. Te adoro muito, n chora Tia!!!!!! ♡Beijinhos♡

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    1. Valeu Marininha! A tia é boba mesmo, deveria ter dito poucas e boas, mas prefiro sempre ser educada e acabo engolindo os sapos... adorei teu comentário! Também te adoro minha flor. Beijão

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  3. Bela. Sabes que sempre te achei uma mulher incrível e, certamente, inteligente. O aprendizado de uma língua não-nativa é complexo mesmo. Ainda mais que não somos mais crianças. Rsrsrs. Mas independente disso tudo, eu tenho certeza que estás muito mais próxima de falar (e escrever) bem em espanhol do que as tuas malas colegas na mesma aptidão em outras línguas. Esses comentários são de inveja da tua pessoa, guria. É como diz a filósofa Popozuda: beijinho no ombro pra elas. Beijos e não chores.

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    1. Valeu Clark! O carinho e o incentivo dos amigos estão ajudando bastante a digerir e superar esse episódio. Não vou desistir, fica tranquilo! Beijo pra você também!

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